São Basílio - 1

A mensagem secreta da Catedral de São Basílio

A Catedral de São Basílio ou Catedral da Protecção da Santíssima Theotokos no Fosso, traduzindo Theotoktos como “Toda Poderosa” mas que se interpreta vulgarmente como “Santíssima Trindade” apesar de referir-se à Mãe de Deus, é talvez o edifício religioso mais conhecido de Moscovo e assim mesmo o ainda mais desconhecido pelo singular dos seus contornos que levam a suspeitar com razão haver nisso algum significado secreto cujo mistério não se deixa desvelar.

Situada na Praça Vermelha ao lado do Kremlin, a Catedral de São Basílio marca o centro geométrico histórico de Moscovo, e marcou o seu centro geográfico antes da construção da torre campanária por Ivan, o Terrível, a qual passou a ser o dito centro da cidade por superar em altura essa igreja catedralícia. Construída entre 1555 e 1561 num fosso sobre a primitiva igreja de madeira consagrada a São Basílio, o resultado final desta obra-prima foi tão belo e singular que o imperador Ivan, o Terrível, mandou cegar o seu arquitecto para que não pudesse recriar outra igual, apesar de tal facto não passar de lenda tal, pois o seu arquitecto Postnik Yakovlev viveu e trabalhou ao longo de toda a década de 1560, depois de chefiar para esta construção agremiações de pedreiros vindas de Pskov, no noroeste da Rússia, e da Alemanha.

A arquitectura deste edifício é única na Rússia e no Mundo, surpreende toda a arte bizantina, e é muirto natural que assim seja: a catedral foi construída de maneira a reproduzir a Cidade Celestial, ou seja, a Jerusalém Celeste, e é por este motivo que desde o século XVI passou a realizar-se nela a celebração anual do Domingo de Ramos, marcando a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, com a presença do Patriarca de Moscovo e do Czar, identificando-a ao Templo de Salomão em Jerusalém, em guisa de trasladação do sentido místico desse para este templo moscovita, aliás, plantado sobre o nódulo telúrico (“fosso”) do que chegou a ser o áxis-mundi ou centro axial da cidade, onde vibram com maior intensidade as energias vitais da Terra.

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Elevando-se da Terra ao Céu, os bulbos multicoloridos das suas oito torres em volta da nona central de cúpula dourada, evocam as chamas dos Círios da Fé, ou por outra, as chamas do Fogo Criador do Espírito Santo o que transporta para a mensagem do Pentecostes quando o Divino iluminou os Apóstolos na presença da Santíssima Theotokos, a Virgem Maria, com a promessa de Advento, o que se prefigura no sentido da descida à Terra da Jerusalém Celeste. É assim que além de centro axial terrestre a Catedral de São Basílio também assinala o centro místico celeste, sentido cosmológico marcado pela torre central indicativa do próprio centro místico (a Jerusalém Celeste) e pelas oito torres divididas em dois grupos: as de cúpulas hemisféricas maiores estão orientadas para os quatro pontos cardeais, e as restantes para os quatro pontos sub-cardeais. O formato de bulbos chamejantes subindo ao céu das mesmas torres, é a materialização testemunhal da afirmação bíblica de que “o nosso Deus é um Fogo consumidor” (Hebreus, 12:29).

As cores vivas desta catedral, que lhe foram impostas desde 1680 até 1848, estão igualmente em conformidade à representação da Cidade Celestial conforme está descrita no Apocalipse (4:3-4): “O seu rosto brilhava como brilham as pedras de jaspe e sárdio, e em volta do trono havia um arco-íris que brilhava como uma esmeralda. Ao redor do trono haviam vinte e quatro tronos, e sobre os tronos vi sentados vinte e quatro anciãos, vestidos de branco, que tinham nas cabeças coroas de ouro”. Douradas eram uniformemente as cúpulas deste templo, cobertas com estanho, mas depois criou-se uma combinação multicolorida brilhante acrescentando às cores tradicionais branca, vermelha e dourada o uso moderado de azulejos verdes e azuis, proporcionando o aspecto de arco-íris conforme o descrito na Escritura Sagrada para a Cidade Celeste.

São Basílio Moscovo - 2

O interior desta Catedral de São Basílio (Vasily, em russo) obedece ao mesmo esquema iniciático reprodutor da Jerusalém Celeste: os seus corredores labirínticos induzem a ideia do caminho tortuoso da Iniciação Espiritual para o Centro Primordial, marcado pelo espaço interno sob a torre central tendo pouco mais de 64 metros quadrados, a que se chega após vencer as duras provas a que o candidato é sujeito ao longo do seu itinerário, sempre em risco de perder-se no labirinto obscuro da vida. A iconografia cristã ortodoxa permeio a temas florais que decoram as paredes, serão tema de meditação acurada para quem percorre os seus estreitos corredores, pois estreito é o Caminho da Salvação, assim não esquecendo antes lembrando-se sempre e mais do motivo principal dessa sua viagem espiritual: o de tornar-se um eleito da Cidade Celeste, e este é o derradeiro sentido desta maravilhosa Catedral de São Basílio, que como Basileus em grego já por si indica a “Realeza”, o Caminho Real da Iniciação.

São Miguel Arcanjo, protector de Moscovo

A catedral do Arcanjo São Miguel ou simplesmente catedral do Arcanjo (Arkhangelsky sobor, em russo), situada na Praça das Catedrais no Kremlin de Moscovo, é o lugar evocativo do capitão das hostes celestes que protege as almas moscovitas e deu vitórias militares retumbantes à realeza russa, motivo para aí estarem quarenta e seis túmulos dos soberanos do Ducado de Moscovo desde o século XIV até D. Pedro I no século XVII, em guisa de permanecerem sob a protecção do Arcanjo Miguel mesmo depois da morte.

O Arcanjo Miguel, Michael, Mikhail, Mikael ou Mirrail, nas diversas línguas, teologicamente é consignado o mais próximo do Trono de Deus e quem o defende de lança ou espada inflamada com o escudo da Luz protector das investidas do Mal. Por isso é considerado o primeiro Arcanjo dos Céus e é tal a sua identidade com o Absoluto com que Ele se confunde a ponto dos teólogos latinos apodarem-no Quis ut Deus, “Quem é Deus”. É o Arcanjo Julgador, com os símbolos da espada e da balança com que pesa o valor dos virtuosos dos pecadores premiando-os ou castigando-os com o Gládio da Lei Divina no Dia do Juízo Final em que Satan, corporização do Mal, é finalmente derrotado com as suas hostes tenebrosas, podendo finalmente a Jerusalém Celeste descer sobre a Terra, isto é, abrir-se um ciclo novo de paz, progresso e espiritualidade no Mundo sob o olhar atento do capitão dos Céus. Essa derradeira mensagem de Parúsia ou Advento está retratada em belíssimas pinturas na abóbada desta catedral, que descrevem o Reino de Deus desde a Criação do Mundo até ao Juízo Final, portanto, durante todo o Ciclo de Manifestação Universal, o que sábios hindus chamam de Manvantara. Por cima do conjunto pictórico tem-se a cúpula central do tempo que até ao século XVIII era em forma de capacete, o mesmo do Arcanjo São Miguel que do alto Céu assiste à evolução do Mundo, defendendo-o sempre o Mal, como se vê nas pinturas nas paredes laterais que o retratam batalhando as forças demoníacas cujo destino final é a derrota absoluta. Esses frescos interiores foram feitos entre 1652 e 1666 por quase uma centenas de artistas, sob a direcção dos pintores icónicos Simon Ushakov, Stepan Rezanets e Fyodor Zobov.

Arcanjo São Miguel - segundo quartel século XIV - Moscovo

O culto a São Miguel em Moscovo é muito anterior à data da construção desta catedral entre 1505 e 1508 por encomenda do príncipe Basílio III, pois que a mesma substituiu a anterior igreja de São Miguel feita em madeira em 1333, da qual ainda sobrevive o ícone do Arcanjo com armadura completa pintado na segunda metade do século XIV.

O facto da população moscovita desde muito cedo ter-se posto sob a guarda do Arcanjo São Miguel, deve-se ao facto dele ser o vencedor da morte, como é crença geral, pois que na sua função psicopompa ou de condutor de almas conduz estas do mundo dos vivos pelo oceano dos mortos ao paraíso celeste. O simples facto de evocar São Miguel era já meia garantia que ele atenderia o rogo do crente na hora final e o conduziria com segurança, evitando o mundo tenebroso das almas danadas, ao Reino dos Céus onde soberanamente o Trono de Deus resplandece, facto imitado pelos tronos dos czares da Rússia. Essa função psicopompa do Arcanjo protector está retratada nesta sua catedral num ícone datado de 1410, precisamente intitulado São Miguel e a Morte.

Mikael e a Morte - 1410

Como Anjo da Guarda, São Miguel assiste protector a um e todos os moscovitas e a toda a Rússia, tal a devoção geral que lhe é consagrada. O culto do Anjo da Guarda radica na crença primeva e universal de que todos os seres humanos são assistidos pessoal e colectivamente, a título vitalício, por daimones ou génios protectores, equivalentes aos djins citados no Alcorão. A Igreja Católica do do Oriente e do Ocidente perfilhou a crença e celebração dos Anjos da Guarda quase desde o seu início, fundada em duas passagens bíblicas, uma do Antigo Testamento e outro do Novo Testamento, ou sejam, em Salmos, XCI, 10-12, “Deus mandou aos Seus Anjos que te guardem em todos os caminhos”, e em Mateus, XVIII, 10, “Tende cuidado em não escandalizar a um destes meninos, porque os seus Anjos vêem sempre a Face de Meu Pai, que está nos Céus”. Já Orígenes, nos séculos II-III d. C., advogava que “junto de cada homem há sempre um Anjo que o ilumina, protege e guarda de todo o mal”. Este Anjo da crença individual e colectiva de Moscovo, é exactamente São Miguel, reconhecido Guerreiro Celeste cujas armas sagradas sempre prontas para a peleja contra o mal, são a garantia da perpétua Assistência Divina na Terra e no Céu às almas da nação russa desde esta catedral da sua evocação onde nuvens de incenso osculam o santo nome do Arkhangelsky Mikhail.

Mistério do Véu da Virgem Maria

Quem visita a igreja do Véu na Praça das Catedrais, no Kremlin, e se depara com um fresco antigo mostrando o imperador bizantino Miguel III, o Ébrio, e o Patriarca Fócio colocando um véu no mar, não deixa de interrogar-se o que significará esse acto, se acaso aconteceu ou não passará simples lenda medieval nascida de alguma extravagância desse último imperador da dinastina Amoriana que viveu de 19.1.840 a 23.10.867. O mistério mantém-se…

Contudo, a tradição local afirma que no ano 860, durante a Guerra Rus-Bizantina, à vista da poderosa armada invasora do Caganato de Rus (cidade-estado predecessora do Principado de Kiev) que ia invadir Constantinopla, o Patriarca São Fócio, o Grande (c. 820 – c. 893), depôs no mar o véu da Theotokos ou Mãe de Deus, e de imediato levantou-se uma terrível tempestade que afundou os navios invasores assim se salvando milagrosamente Constantinopla. É esse momento mágico que o fresco em apreço retrata.

Fresco que mostra o imperador bizantino Miguel III, o Ébrio e o Patriarca Fócio a colocarem o véu da Theotokos no mar.

Não se sabe exactamente se alguma vez o Véu de Maria esteve nesta igreja de Moscovo. Por outra parte, este templo construído no lugar de um anterior, erigido pelo metropolita Jonas de Moscovo em 1451, já possuía o nome de Igreja das Vestes de Maria, Igreja da Deposição das Santas Vestes da Virgem, Igreja do Véu ou simplesmente Igreja da Deposição, como referência a uma festividade religiosa datada do século V que celebra a viagem das vestes de Nossa Senhora entre a Palestina e Constantinopla, as quais vieram a proteger essa cidade no episódio descrito. A sua tradição terá sido exportada para Moscovo pela Igreja Ortodoxa Oriental em guisa de também assim igualmente proteger a capital da Rússia de todos os males visíveis e invisíveis. O facto é que em 1737 deu-se aqui um terrível incêndio, que danificou gravemente o edifício, mas, dizem as bocas devotas, de súbito como por milagre o fogo apagou-se certamente graças a ser sufocado pelo Véu da Virgem Maria.

Sem dúvida que o simbolismo do véu é caríssimo à Igreja Ortodoxa e por ela dá primazia à Mulher como expressão corporal do Divino Espírito Santo cujo corpo é a assembleia dos fiéis. Com efeito, é uma mulher, Maria, e não um homem a pessoa que vai conhecer melhor o Cristo. Ela recebe a semente da maternidade do Anjo Gabriel. A partir daí Jesus cresce dentro dela, é no seu interior que se desenvolve, na relação mais íntima, estreita que jamais alguém tevce com Deus. O Espirito Santo a cobriu e ela concebeu, tudo se passando dentro dela no maior mistério. Ela é o Santuário de carne santificada que alberga a Divindade, e assim mesmo na igreja o véu que separa  o santuário dos fiéis é a evocação sacramental do Véu de Maria, ou antes, de Maria Velada como Mistério da Encarnação pela qual o Verbo se faz Carne.

Na liturgia ortodoxa, o santuário é separado dos fiéis e em dois momentos fecha a sua porta aos olhos dos mesmos: na Proskomídia (Preparação das Oferendas), representando a vida oculta ou anterior de Cristo no Mundo, e na Comunhão do Clero. É aqui que o véu nas mulheres faz-se lembrança permanente na Igreja daquilo que não sé, que é mistério, está perto mas encoberto por um véu. O santuário e a sua porta representam a entrada (a Porta, o Cristo) no Céu, que é coberto ou oculto por um grande véu. Na Terra, um véu separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos e transpô-lo armado de fé significa ressuscitar em Cristo como Senhor da Vida Eterna. Realmente, só o Espírito Santo concede a visão do que está além do véu do mistério, e nisto é necessária a fé tão grande como a teve a Virgem Maria ao confiar no Anjo de Deus, fé como a da mulher que espera um filho e vê nele um futuro distante mas promissor.

Herança dos primitivos Mistérios de Ísis no Antigo Egipto por via dos cristãos primitivos de Alexandria, o véu tornou-se sinónimo de segredo, de oculto, mas também de incorrupção da alma virgem e assim mesmo de protecção, como aquela outrora concedida num momento de graça pelo Véu de Maria ao povo bizantino em aflição à vista do inimigo implacável, protecção divina que Maria estende a Moscovo como Mãe Soberana da Rússia.

A Dormição da Virgem Protectora

Quem visita a Catedral da Dormição (Uspensky Sobor, em russo) da Virgem Maria na Praça das Catedrais no Kremlin de Moscovo, quase de imediato interroga por que a maioria dos moscovitas abastados e nobres escolheu este templo como última morada praticamente desde o século XV, quando entre 4.8.1326 e 1479, ano da sua consagração pelo Metropolitano Geronti, foi construído sob a direcção do arquitecto italiano Aristotele Fioravanti. Essa pergunta fica sem resposta, e a haver resposta é sempre vaga e incerta por se desconhecer o sentido último dessa intenção onde a morte toma feições sagradas através da própria Dormição.

O ícone da Dormição da Virgem domina nesta catedral e é nele que reside a resposta à questão dos corpos jacentes aos pés da Senhora da Boa-Morte, pois tal Ela ascendeu ao Céu flanquendo os portais da morte corporal instalando-se triunfante junto ao Trono de Deus intercendendo junto a Este por todas as almas dos crentes que à Santa Mãe se encomendam na hora da partida final, motivo substancial para os crentes procurarem a última morada o mais próximo possível da Mãe Divina para Ela de imediato recolher as suas almas assim escapando às penas do Inferno e do Purgatório. Ser sepultado no chão santo desta catedral equivalia a um “salvo-conduto” directo para o Paraíso Celeste.

Dormição de Maria

Esse “salvo-conduto” permitia transpor triunfalmente o Portal da Morte representado na porta norte desta Catedral da Dormição, profusa e artisticamente pintada onde dois Anjos laterais, um deles São Miguel, escrevem e lêem o pergaminho da vida e destino de cada alma, só permitindo a passagem das justas e fiéis, interditando a mesma às injustas e impuras que São Miguel com o gládio erguido ameaçador impede as mesmas. Este Portal da Morte da Morte é também assim o Portal do Julgamento Final post-mortem.

Os que morreram em guerra justa, nas palavras de São Bernardo de Claraval, ou seja, militaram na chamada Iniciação Senhorial ou Mariana distinguida pela arte bélica característica da Cavalaria, encomendados desde a primeira hora à protecção maternal de Maria, esses também transporão triunfantes a porta norte desta catedral tendo na Theotokos, a Mãe Divina, a salvação certa. É este o sentido último do mais famoso ícone deste templo, Bem-aventurado é o anfritião do Rei do Céu, o qual mede quatro metros de largura e retrata as hostes militares protegidas por anjos encaminhando-se para a Jerusalém Celeste onde Cristo, o Rei do Céu, junto com a Virgem Maria aguardam a chegada aí dos justos que combaterem e morreram na fé assim encontrando a boa-morte.

O temor que a mensagem derredeira desta Catedral da Dormição encerra foi tal e tamanho que até os líderes bolcheviques a ela se renderam e procuraram evitar afontas maiores, não fosse o destino pregar-lhes uma partida fal por desafiarem os poderes soberanos da Morte vigilante da boa ou má dormição. Assim, Lenine permitiu que a celebração da Páscoa fosse mantida aqui em 1918, sendo os momentos finais dessa celebração motivo de para uma pintura inacabada de Pavel Korin, intitulada Adeus a Rus. O próprio Estaline no Inverno de 1941, quando as forças nazis já haviam alcançado a entrada de Moscovo, ordenou secretamente um serviço para ser realizado na Catedral da Dormição, ordenando que se rezasse pela salvação da “Santa Rússia” dos invasores alemães. As preces tiveram resposta.

A Dormição de Maria ou da Theotokos (em grego Koimesis, frequentemente latinizado como Kimisis e Uspénie na língua eslava eclesiástica, todos termos que se referem ao acto de dormir), é uma das grandes festas litúrgicas da Igreja Católica Ortodoxa Oriental, comemorando a “dormição” ou morte de Maria e a sua assunção ao Céu em 15 de Agosto (28 de Agosto no calendário juliano, aina observado por algumas Igrejas). A ortodoxia ensina que Maria passou pela morte natural como qualquer outro ser humano, mas que a sua alma foi recebida por Cristo após a morte e o seu corpo ressuscitado no terceiro dia, quando ele se elevou ao Céu para unir-se à sua alma, motivo porque o túmulo de Maria em Jerusalém encontra-se vazio, como é crença comum católica, defendendo que Maria foi assumida no Céu de corpo e alma, justamente como o seu Filho Jesus Cristo ascendeu. Alguns católicos romanos concordam com os católicos ortodoxos de que esse evento terá ocorrido após a morte da Virgem, enquanto outros afirmam que Ela não experimentou a morte. O Papa Pio XII, na sua constituição apostólica Munificentissimus Deus, de 1950, definiu dogmaticamente o dogma da Assunção, deixando propositamente em aberto a questão de Maria ter ou não morrido na hora da sua partida, mas aludindo à sua morte pelo menos cinco vezes.

Durante os quatro primeiros séculos do Cristianismo nada se escreveu sobre o fim da vida da Virgem Maria, embora se afirme, sem documentação sobrevivente, que a Festa da Dormição já era observada em Jerusalém desde o final do Concílio de Éfeso (ano 431). Foi no fim do século V que começaram a aparecer manuscritas as primeiras tradições narrativas do final da vida da Santa Virgem, que o historiador Stephen Shoemaker em 2003 distinguiu em três classes que chamou de “Palma da Árvore da Vida”, “Belém” e “Copta”, além de uma série de outras narrativas atípicas constando em manuscritos apócrifos.

O maior sino do mundo

Sabia que o maior sino do mundo está em Moscovo e pode ser visto junto à Torre de Ivan, o Grande, no Kremlin? Com efeito, ele é a maior obra de arte de fundição alguma vez feito e as suas proporções impressionam qualquer um.

Chamado Tsar Kolokol em russo, isto é, “Grande Sino”, é a maior peça do mundo fundida em bronze: pesa 222 toneladas, tem a altura de 6,14 metros e 6,6 metros de diâmetro. A sua origem recua a 1733-1735 quando a imperatriz Anne Ioannovna encomendou a sua feitura a Ivan Motorin e seu filho Mikhail, mestres artesãos da arte metelúrgica que supervisionaram uma equipa de 200 operários para a construção do sino. Em 1736, o Tsar Kolokol foi finalmente dado como terminado, permanecendo no entanto no seu poço de fundição. Em Maio de 1737, deu-se um terrível incêndio em Moscovo que se espalhou pelos edifícios do Kremlin e isso foi fatal para o sino ainda no poço: o choque térmico entre o fogo em volta da peça e a água fria caída sobre ela durante o combate às chamas, provocou-lhe uma enorme rachadura soltando-se um pedaço de 11 toneladas, inutilizando o sino. Só em 1836 o Tsar Kolokol foi exumado da sua cova de moldagem pelo arquitecto francês Auguste de Montferrand Ricard, e depositado num pedestal de pedra no local onde pode ser visto até hoje.

Sino de Moscovo - 3

O Tsar Kolokol está decorado com baixos-relevos do czar Alexey Mikhailovich e da imperatriz Anne Ioannovna, assim como por ornamentos vegetalistas no estilo barroco e imagens de santos e de anjos, além de inscrições contando a história do sino, obras dos mestres V. Kobelev, P. Galkin, P. Kokhtev, P. Serebryakov e P. Lukovnikov.

Este sino que nunca tocou foi o terceiro de uma geração de sinos gigantescos: o primeiro, de que há poucas notícias, foi feito no início do século XVII, e o segundo foi fundido em 1654 e pesava 130 toneladas, sendo destruído em 1701. Ambos os sinos parece que foram destruídos para fundi-los num ainda maior, precisamente este Tsar Kolokol.

O simbolismo do sino pela posição do seu badalo evoca tudo que está suspenso entre a Terra e o Céu, e por isso mesmo estabelece uma comunicação entre os dois, mas também tendo o poder de entrar em relação com o mundo subterrâneo chamando os deuses e as almas dos mortos daí à presença de Deus revelado no ofício divino no templo consagrado. Portanto, o sino tem a função de comunicar e convocar os deuses e as almas dos três Mundos (Celeste, Terrestre e Infernal) à liturgia da Palavra da Salvação dos fiéis, visíveis e invísiveis. Quanto maior fosse o sino melhor ouviram os entes do Além e do Aquém, não teriam desculpa ante o Pantocrator ou Todo-Poderoso se não comparecessem ao chamado da sua Igreja visível.

Com efeito, o simbolismo do sino liga-se sobretudo à percepção do som. Na tradição védica da Índia, por exemplo, o sino simboliza o ouvido e aquilo que este apercebe, o som, mas aí tomado como reflexo do Som ou Vibração Primordial de que se originou o Universo, o que vai de encontro às primeira palavras do Evangelho de S. João: “No princípio era o Verbo e o Verbo era Deus…” É assim que como instrumento de comunicação entre o Céu e a Terra, plasmando o Esplendor daquele para Glória desta, o sino vem a expressar o apelo ao estudo da Lei de Deus, a obediência à Palavra Divina, o exorcismo das presenças malignas ou, no mínimo, do advertimento da sua proximidade, mas que o seu som poderoso, reflexo do Sonido do Logos ou Deus Omnipotente, Omnisciente e Omnipresente, ribombando pelo mundo visível e invisível afugenta as trevas e faz as almas penadas temerem a Força Divina, e até mesmo abirem finalmente os seus corações sofridos ao remorso dos males que causaram e agora sofrem as consequências, dizendo-se mesmo que não poucas almas do limbo vão atrás do Som procurando chegar ao Altar de Deus para obterem a graça da redenção dos seus pecados e finalmente subirem ao Céu. Este é o sentido último do Tsar Kolokol, grande e poderoso como o Verbo de Deus o é.

Evocação da Ordem de Malta em Moscovo

A Ordem Militar e Benificente de São João de Malta, antiga Ordem do Hospital de São João de Jerusalém, fundada aí no século XII (1113), veio a ter uma acção relevante em Moscovo durante o século XVIII que acabou esquecida vítima das vicissitudes de um tempo incerto mas que recentemente o Museu do Kremlin trouxe novamente à luz com a exposição “Tesouros da Ordem de Malta: Nove Séculos de Serviço à Fé e à Misericórdia”, onde se expuseram 200 obras de arte procedentes da Ilha de Malta e das próprias antigas comendas maltesas na Rússia.

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Dentre todos esses objectos raros expostos, destacam-se as coroas dos Grãos-Mestres da Ordem de Malta, inclusive a de Pavel I, imperador da Rússia que também foi soberano maltês, as cruzes, armaduras e armas do cavaleiros, inclusive as adagas e espadas da Fé que só os dignitários superiores tinham direito a usar, destacando-se ainda a pintura do notável retrato de um cavaleiro de Malta saída da mão do grande mestre italiano Caravaggio, cedida gentilmente pelo Palazzo Pitti de Florença. De tudo isso, destaca-se o ícone de Nossa Senhora de Filermo, com a sua história incomum. Já no século IX esse ícone era venerado no mosteiro de Filermo na Ilha de Rodes, e durante gerações a imagem acompanhou os cavaleiros da Ordem de Malta. Quando Napoleão Bonaparte conquistou e expulsou da Ilha de Malta a Ordem no final do século XVIII, o ícone foi trazido para Moscovo por ordem de Pavel I, e depois seguiu para a Dinamarca onde acabou desaparecendo até ser reencontrado num mosteiro de Montenegro há alguns anos atrás. Nesse ínterim, o czar Nicolau I mandou fazer uma cópia do original em 1852. Este é o mesmo ícone que a pedido do governo das ilhas egeias foi enciado pelo governo bolchevique em 1925 para Rodes, a fim de ser ali entronizado num novo santuário. Depois foi encaminhado para Assis, na Itália, por religiosos franciscanos em 1948, quando Rodes passou a depender o governo grego. O ícone miraculoso da Ordem de Malta ficou em Assis, na Basílica de Santa Maria dos Anjos em Porciúncula, numa capela lateral consagrada a ele, mas apareceu agora na exposição moscovita dedicada à Ordem de Malta.

Virgem de Filermo - Ordem de Malta

A existência da Ordem de Malta só não terminou abruptamente em Junho de 1798 quando Napoleão conquistou essa ilha, saqueou os tesouros da Ordem e expulsou os cavaleiros, graças ao imperador Pavel I que os acolheu na Rússia e os arrancou da miséria oferecendo-lhes 216.000 rublos de ouro. Nesse mesmo ano de 1798 foi nomeado Grão-Mestre da Ordem de Malta, sendo coroado com uma coroa especial e a sede da Ordem transferida de Gatchina para São Petersburgo. Porém, a relação entre a Ordem de Malta e a Rússia era muito anterior a Pavel I, pois frequentemente os cavaleiros ajudavam os marinheiros russos que eram atacados pelas frotas turcas.

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Pavel I (1754-1801) erradicou os vícios seculares do luxo e espavento que se haviam se infiltrado na Ordem, impôs a primitiva regra de pureza e sobriedade aos cavaleiros, declarou traidor o anterior Grão-Mestre Hompesch que rendera ou vendera a Ilha de Malta a Napoleão em troca vultuosa quantia de dinheiro, e “nacionalizou” a Milícia, de que resultou a criação da tradição russa dos Cavaleiros Hospitalários nas suas Ordens imperiais. Com efeito, em troca da salvação da Ordem o imperador exigiu o seguinte: que ela se tornasse pan-cristã e não apenas católica romana; que fosse nomeado Grão-Mestre dela, apesar de já ser casado e católico ortodoxo; e que a língua russa se tornasse parte dos símbolos da Ordem. Se na cruz branca aspada de oito pontas da Ordem de Malta, cada ponta significa uma das línguas dos fundadores originais da mesma, então Pavel I exigiu que o centro da cruz fosse considerado o da língua russa, e foi assim que durante muitos anos a Cruz de Malta foi o símbolo estatal do Império Russo.

Depois da morte de Pavel I, o imperador seguinte, Alexander I, renunciou ao título de Grão-Mestre e praticamente todos os símbolos e outros objectos valiosos da Ordem de Malta foram devolvidos ao Papado de Roma. Daí para cá a tradição maltesa em Moscovo foi sendo esquecida, até que finalmente a sua memória histórica foi reavivada na supradita exposição no Museu do Kremlin e sobretudo pela evocação daquele imperador virtuoso que além de soberano da Rússia foi salvador da Ordem de Malta.

Memória esotérica do czar Alexandre I

A memória do czar Alexandre I (23.12.1777 – 1.12.1825) em Moscovo está presente sobretudo no Palácio do Arsenal de Moscovo, onde é evocada num misto de admiração e muitas interrogações sobre vários aspectos obscuros, insólitos, da sua vida. Isto apesar do seu rsto mortal não jazer nesta capital da Rússia mas em São Petersburgo, na Catedral de São Pedro e São Paulo.

Essas várias facetas obscuras da sua vida, aliás, marcada pelas três derrotas militares que impôs a Napoleão Bonaparte, manifestaram-se pelo seu forte pendor místico que o levaram a abraçar a Maçonaria Russa e a findar os seus dias dias abraçado à Igreja Ortodoxa. Só observando essas duas correntes tradicionais onde o imperador circulou, poder-se-á fazer luz sobre os vários episódios insólitos da sua biografia. Comece-se pela Maçonaria.

Fundada em Londres, Inglaterra, no ano de 1717, em 1731 a Maçonaria instala-se na Rússia – em Moscovo, São Petersburgo e Kiev – através do capitão John Phillips designando Gão-Mestre Provincial da Rússia pela Grande Loja de Inglaterra; mas é sobretuto Ivan P. Yelaguin (1725-1794), senador e conselheiro particular da imperatriz Catarina II, a Grande, o principal difusor do sistema maçónico inglês neste país, pelo que em 28 de Fevereiro de 1772 foi eleito Grão-Mestre Provincial do Império Russo, sob os auspícios da Grande Loja de Inglaterra. Em 1787 já existiam no território 145 Lojas maçónicas, facto que colocava a Rússia entre as principais potências maçónicas do mundo de então. Além do sistema maçónico inglês de Yelaguin havia o sistema maçónico sueco ou de Zinnendorf, chegado à Rússia via Berlim, Alemanha, através de George Reichell, director da Escola Militar, e que só admitia nobres nas suas Lojas. Essa Maçonaria tornou-se famosa pelos seus Graus Templários ou Cavaleirescos, de marcantes características místicas cristãs, logo encontrando pela frente a oposição católica da Ordem de Malta que lhe nutriu hostilidade aberta. Essas duas Obediências maçónicas russas unificaram-se em 1776 tomando o nome de Grande Loja Nacional.

A forte oposição da Ordem de Malta actuando junto da Igreja Ortodoxa da Rússia levou à proibição da actividade maçónica em 1794 por odem imperial. Quando o czar Pavel I chegou ao poder em 1796 e em 1798 tornou-se Grão-Mestre da Ordem de Malta, não revogou essa proibição, antes mandou libertar os maçons entretanto presos e devolver-lhes os seus bens. Em 1805 a Maçonaria foi novamente autorizada na Rússia pelo czar Alexandre I, por influência de Ivan Boeber, membro da Academia Imperial das Ciências, junto do soberano a quem exaltou as virtudes e grandezas do sistema maçónico, a ponto de Alexandre I ter-lhe respondido: “Com o que me conta a respeito dessa Ordem, sugere-me que não somente lhe dê a minha protecção como eu próprio devo solicitar a minha admissão à Maçonaria”. Assim aconteceu, tendo o imperador sido iniciado maçom na Loja “Constância” no castelo imperial Oranienbaum em São Petersburgo, um dos mais luxuosos templos maçónicos do continente europeu. Em 1815, o czar Alexandre I foi nomeado Grão-Mestre de honra da Maçonaria da Polónia, durante um banquete maçónico celebrado em Varsóvia.

Alexandre I

Até 1822, a Igreja Ortodoxa e Maçonaria Russa viveram um período excepcional de pazes, mas as diferenças doutrinais e os métodos de actuação social levaram a Igreja, inimiga jurada do liberalismo, a fazer forte campanha de conspiração junto do czar a ponto dele esquecer os seus juramentos maçónicos, de modo que em 6 de Agosto desse ano Alexandre I estabelecesse a interdição da Maçonaria na Rússia e na Finlândia, após o Congresso da Santa Aliança celebrado em Verona.

O clero levou o imperador a acreditar-se um enviado de Deus destinado a extirpar as heresias da Santa Rússia, tendo tido a prova maior ao salvar milagrosamente Moscovo e toda a Rússia do “herege” Napoleão Bonaparte em 1812. Já desde essa altura que se tornara profundamente religioso, lendo a Bíblia diariamente e rezando muito. Quando da sua entrada em Paris em 1814, deixara-se influenciar pelo pensamento místico de uma visionária, Bárbara Juliana Krüdener, conhecida por Madame von Krudener, que se considerava profetisa encviada ao czar por Deus. Teve influência curta mas profunda, sobretudo por o clero ter-se aproveitado disso para os seus interesses próprios, a ponto de em 1815 ter inspirado a Santa Aliança da Europa cristã com os soberanos do Império Austríaco e do Reino da Prússia, destinado a resgatar o poder das dinastias absolutistas europeias. Alcunhado Bendito por Deus, há a lenda de que terá abdicado secretamente e vivido como monge, o que absolutamente não é verdade mas que serve para encomiar a fidelidade absoluta deste filho da Igreja que um dia lutou pela liberdade de pensamento e de justiça social para o seu povo russo, e num outro a seguir reprimiu esses ensejos com isso enchendo de “claro-escuro” a sua biografia cujos episódios insólitos, aqui evocados, só têm explicação atendendo às influências esotéricas, visionárias e religiosas que determinaram os lances principais da sua vida.

Enigma alquímico do ovo Fabergé

A Alquimia aparece na Rússia cerca do século X d. C. através dos sábios chineses e mongóis e depressa foi abraçada por parte do clero erudito sobretudo de Moscovo. Ainda que não tenha possuído a notoriedade que possuía em cidades de outros países, como por exemplo Praga e Veneza, contudo manteve-se com maior ou menor discrição até aos finais aos meados do século XIX, e a maior fama que usufruiu foi na corte dos iluminista da imperatriz Catarina II (1729-1796), em cujo reinado a nobreza russa teve o seu ponto alto. Essa fama ficou e veio dar origem a uma obra-prima da joalharia czarina inspirada directamente no simbolismo do “ovo alquímico”: o ovo Fabergé.

Este famoso ovo pascal é obra-prima do joalheiro Peter Carl Fabergé, cuidadosamente elaborada com uma combinação de esmalte, metais e pedras preciosas, escondendo dentro surpresas e miniaturas que os membros da família imperial ofereciam entre si na época da Páscoa. O primeiro ovo foi desenhado e construído em 1885, por encomenda do czar Alexandre III como presente de Páscoa para a sua esposa Maria Feodorovna. Exteriormente parecia um simples ovo esmaltado, mas ao abri-lo revelava-se uma gema de ouro que dentro de si tinha uma galinha, por sua vez contendo um pingente de rubi e uma réplica em diamante da coroa imperial. A imperatriz Maria ficou tão impressionada com o presente que Alexandre acabou nomeando Fabergé como o exclusivo fornecedor da corte, passando a encomendar um ovo por ano sob determinação de que fosse único e contivesse uma surpresa. O seu filho, Nicolau II, deu sequência à tradição e anualmente presenteava a sua esposa, Alexandra Feodorovna, com um ovo imperial. A produção destes ovos para os czares da Rússia terminou em 1917.

Fabergé Ovo

A invenção joalheira do ovo pascal imperial provém directamente da tradição do ovo alquímico ou ovo do filósofo, que é o vaso hermeticamente fechado em cujo interior procede-se à fase final da produção da pedra dos filósofos, com a qual poder-se-á operar a maravilha de transformar qualquer metal grosseiro no mais refinado ouro, tal qual acontece no ovo Fabergé que quando é aberto revela sempre uma maravilha riquíssima. Nas ilustrações alquímicas tradicionais, o ovo filosófico é retratado de diversas maneiras, seja como um vaso lacrado, seja como um caixão fechado ou um sepulcro lapidado.

O ovo é por excelência o símbolo do Princípio Criador. Fisiologicamente, trata-se de uma célula reprodutora original resultante da fusão numa só das células masculina e feminina. Tradicionalmente, é considerado símbolo da semente geradora de um novo ciclo ou de um novo ser, macho-fêmea ao início, facto que levou os antigos egípcios a adoptarem o termo ovo alado para designar o estado primordial de andrógino, do que transitou do Plano Divino ao Humano e do que transita do Plano Humano ao Divino. Os hindus chamavam Hiranyagarbha ao “Ovo Luminoso ou d´Ouro da Criação”, e para os egípcios este “Ovo do Mundo” procedente da Divindade Incriada e Eterna, Knef, era representativo do Poder Criador expressado pela Deusa Ísis, a quem os ovos eram consagrados e por isso os sacerdotes isíacos nunca os comiam. Ísis era a mesma Ishtar, a Vénus babilónica, a qual incubou o Ovo do Mundo que caiu do Céu no Rio Eufrates, como era crença comum nesse povo. Por isso, desde há milénios os ovos coloridos têm sido usados na Primavera em todos os países, especialmente no Médio Oriente e na Europa, permutando-os como símbolos sagrados nessa estação a qual foi, é e será sempre representação do nascimento ou do renascimento cósmico e humano, celeste e terrestre.

A questão Ovo d´Ouro reporta à velha historieta sobre quem nasceu primeiro, “a galinha ou o ovo”? Obviamente o ovo, por expressar a Substância Universal (o Magnus Limbus de Paracelso ou o Svabhâvat das escrituras hindus) donde nasceram todos os seres vivos, galinha inclusive, como aquela oferecida no primeiro ovo Fabergé pelo czar Alexandre à czarina Maria.