A “Pedra Santa de Kurat” (Sintra). Interpretação iniciática, histórica, linguística e epigráfica – Por Vitor Manuel Adrião Quinta-feira, Jan 27 2011 

A Serra de Sintra constituiu sempre um lugar privilegiado, um aro feito de místicas e encantadas tradições que, a bem dizer, seria uma espécie de Mons Sacer ou Monte Santo onde um dia a Tradição do Santo Graal se fundou e cujos Cavaleiros da Demanda nas funduras da Serra se perderam para, afinal, se encontrarem…

Chegou até, entre os séculos XV e XVIII, a haver necessidade de um salvo-conduto para puder circular livremente pelos caminhos interditos da Serra, como conta o botânico suíço Charles Fréderic de Merveilleux ao serviço do rei D. João V (Memórias Instrutivas de Portugal (1723-1726) – in O Portugal de D. João V visto por três forasteiros. Tradução, prefácio e notas por Castelo Branco Chaves, 2.ª edição, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1989).

Sintra assumia-se Sagrada desde há muito, sendo trilhada por caminhos de fé atravessando quintas e terras ora de ordens clericais, ora nobres ricos, ora da própria Coroa. Daí, também, a necessidade do dito salvo-conduto…

Um dos itinerários de maior importância franciscana era o que saía do pé da Vila e subia a Serra até onde está a Cruz Alta, sendo pois Via Crucis, tendo início na primitiva ermida florestal do Senhor dos Passos dos franciscanos do lugar da Boiça ou Bouça, de que ainda sobra hoje o topónimo caminho dos frades. Subia transpondo o espaço da actual Quinta da Regaleira – de que sobeja pequeno azulejo retratando a descida da Cruz de Jesus – ia ter ao Casal de São Jorge e prosseguia Serra acima até à Cruz Alta, onde o intuído poeta Francisco Costa (1933) deixou na lápide aí “que o Céu visasse o que une o Céu à Terra”… Sobeja também, num recanto defronte ao Casal de Santa Margarida (onde o famoso mago inglês Aleister Crowley esteve hospedado cerca de 1930), um oratório com a Cruz que tinha uma pintura ou azulejo do Senhor dos Passos e sobeja só a cruz cimeira.

No século XIX, tendo já desaparecido a freiria franciscana, o lugar da Boiça passou para a posse dos descendentes da família do inglês Francis Cook, igualmente proprietária do Palácio de Monserrate. Foi quando se fundou a Quinta da Boiça, que ocupa 10 hectares de floresta e hoje destina-se ao turismo rural.

Contudo, ficou a memória dos Espirituais franciscanos aí, e também o testemunho dos seus conhecimentos iniciáticos recolhidos na Fons Magna Sapientia de que alguns deles seriam participes directos ou membros privilegiados: a Ordem de Mariz, a mesma do Culto Universal de Melki-Tsedek de quem foi “círculo de resistência” a Ordem Franciscana, cuja presença humana e espiritual, causalmente, envolve toda a Serra de Sintra e os caminhos do seu Itinerário Jina, dispostos como um Sistema Solar mas conformados a este Geográfico da Terra: Castelo dos Mouros (Sol) – Santa Eufêmia (Lua) – São Martinho (Marte) – Seteais (Mercúrio) – Pena (Júpiter) – Lagoa Azul (Vénus) – São Saturnino (Saturno), e mais a Trindade como 8.ª Coisa ou Causa originadora.

É assim que no vale escondido ao fundo da Quinta da Boiça, na chamada “Boiça ou Bouça dos Cães”, nas proximidades da estrada para Colares, existe, à entrada de um forno circular e disfarçada entre tantas mais pedras que suportam o acesso, uma lápide deveras significativa escrita em misteriosos caracteres, misto de símbolos e hierogramas.

Constitui uma das relíquias da Teurgia Portuguesa que não hesita em cognominá-la Pedra Santa de Kurat (a ponto de uma cópia sua figurar no seu Templo Supremo, junto ao trípode, de modo às suas inscrições tornarem-se etérea ou akashicamente Letras de Fogo ou As-Gardi…), e, quiçá, muito tenha a ver com essa misteriosa Plêiade dos Anciãos da Soberana Ordem de Mariz.

Creio que a Pedra de Kurat foi posta aí muito tardiamente possivelmente trazida de cima para baixo, da primitiva ermida franciscana para o forno de cal. Também nisto há Alquimia e Iniciação, tudo encoberto no óbvio das aparências…

Tal como o Eterno ditou os Mandamentos da Lei aos vários Manus ou Legisladores de Raças, enviando do Céu o seu Raio Jupiteriano à Terra inscrevendo na Pedra com Letras de Fogos as suas Ordens, também assim esta Pedra desceu do alto do monte para aqui, a Bouça dos Cães. É neste sentido que encaixa o termo aghartino As-Gardi, com vários significados: “Fogo que Escreve”, “Raio caído do Céu que grava o Verbo Divino ou Solar”, “A Primeira Pedra dos Mandamentos”, “Ajoelhar-se (prostrar-se) diante de Deus quando fala, ou se manifesta”.

Em fenício, tem-se a palavra Agariman, que significa: “Deus em oposição ou caído”. Na língua persa existe a palavra Ariman, “Em oposição a Ormuzd”. No tupi há a palavra Agariman, “Estrela caída do Céu”. Em chinês existe Agachima, “Dragão que fala lançando fogo”. O Quinto Sub-Posto Sul-Mineiro (Brasil) do Quinto Posto de Sintra no Sistema Geográfico Internacional, ou seja São Tomé das Letras, tem o nome aghartino de Asgarmat, e ambos os Postos estão sob a égide do Quinto Senhor da Ara de Fogo (Arabel…), que no Passado longínquo foi a tal “Estrela caída do Céu”, como canta a Exaltação ao Graal, Ara de Fogo essa que hoje é toda a Sintra ou Sishita, antanho Karma-Shishita ou Shista, em sânscrito, e agora, pela Redenção do Quinto Ishvara, sendo Dharma-Sishita, a “Pedra Branca da Lei”, a primitiva Pedra de Algol (Shakti ou Contraparte de Arabel) convertida Pedra de Asgardi, a mesma com que Asgartock ou Akdorge dita as Regras do Pramantha ou da Grande Fraternidade Branca para o Novo Ciclo da Humanidade, sob a direcção da “Tradição dos nossos Maiores” (Avarat).

No Dicionário de Língua Portuguesa, bouça significa “terreno inculto de mato”, e bouçar “queimar o mato num terreno de lavoura para se fazer a sementeira”, enquanto cão, para além do animal, é também figurado popularmente como diabo, e o seu anagrama, tirando o til do a, é oca, “buraco”. Portanto, “o diabo da oca”, que é dizer, os Assuras da Sura-Loka, a 5.ª Embocadura Sintriana, e por isso estão no fundo do vale expressando o próprio Fogo de Kundalini, o mesmo do Espírito Santo que em sua natureza andrógina é como a cal: misturando água (elemento feminino) no fogo sólido que é a cal (elemento masculino), obtém-se a fervura líquida cujos vapores parecem-se ao enxofre, que na Alquimia representa o Espírito. De maneira que Kundalini, Assuras e o Filho Akdorge ficam em baixo, na Bouça dos Cães, representando o próprio Seio da Terra, e quem está aí e olha para cima, vê nas alturas um cruzeiro junto a duas janelas (do antigo espaço quinhentista de D. João de Castro na Quinta da Penha Verde) que mais parecem os “Olhos do Céu”, a Excelsa Mãe Divina Allamirah, assim reflectindo o Seio do Céu e a Luz de Fohat.

Fohat e Kundalini no mais perfeito dos equilíbrios ou neutralidades na sua própria Yoga, ocupados na sementeira monádica de um novo estado de consciência, bouçando com o Fogo do Espírito Santo – o Terceiro Trono – os elementos podres e gastos do Passado.

Elementos podres e gastos como esse pressuposto dono da quinta que, acompanhando de dois cães infiéis latindo furiosos como se fossem possuídos pelo cão negro Pot-Alef das Forças do Mal, vomitou ou bolçou impropérios os mais desrespeitosos, há alguns anos interceptando-me e ao Paulo Machado Albernaz, discípulo directo do Professor Henrique José de Souza durante 33 anos, junto ao portão público da mesma. Quase perdi a paciência perante o chorradilho das ofensas despropositadas desse cidadão que me culpou por a Câmara Municipal de Sintra não lhe dar os apoios que pretendia para os seus empreendimentos na propriedade, como se eu tivesse alguma coisa a ver com a edilidade… O Paulo interveio, “pôs água na fervura” (que vai bem com a cal) e, já afastados, contou a história ocorrida com o Professor Henrique J. S., quando a chave de uma cristaleira fechada ficara dentro dela e ninguém a conseguia abrir. Mas o Professor abriu-a com uma simples ordem… Pois que, neste caso, fique fechada a ganância perdulária não com uma mas com sete chaves, que é o que a impuberdade jiva merece e só.

Para esse cidadão mal-educado por certamente má criação que é condição quase inata ao estatuto burguês de quem já nasceu rico e pensa que tem “o rei na barriga” e a Humanidade só existe para ser maltratada e o servir (“é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus…”, já dizia Jesus), também vale a Pedra de Kurat com o seu “Aviso Celeste”: Zig-Zag.

Sim, esse é termo aghartino expressando o Raio Divino que ziguezagueando desceu à Terra fulminando tudo à sua passagem, até a sua ponta, como se fosse o Dedo de Deus (Aca-Bangu, em tupi), inscrever as Leis do Novo Pramantha a Luz. De Zig-Zag originou-se Zain, Zaini, Sinai, Asin, Ashin, todas com o significado de Deus, e também Zait, Ziat e Cruziat, o Cruzeiro do Sul (ao qual Fernando Pessoa chamada de “Sul Sidéreo da Iniciação” na sua Mensagem), existindo também o Ziat-Rabi-Muni com que se sela o At Niat Niatat, “Um por Todos e Todos por Um”. Tudo de acordo com o Alfabeto Assúrico ou Vatan, que é a Língua Sagrada de Agharta.

A Pedra de Kurat é composta por 17 símbolos ou petroglifos sobrepostos em três fileiras (17×3 = 51, Arcano Menor “O Assessoramento”, correspondendo ao “Rei de Espadas”, tanto valendo por Chefe dos Tributários que é Akdorge. 5+1= 6, Arcano “O Amoroso”, que é Akbel como mais 1 adiante ou somando valor ao 5 ou 5.º, trasladando já o Quinto para o Sexto Sistemas de Evolução Universal, tal qual, numa escala ou arcano menor, a 5.ª Raça-Mãe se transfunde já na 6.ª Raça-Mãe, onde o Mental se funde no Intuicional, ou seja, a Bimânica). O seu conjunto dispõe-se da maneira seguinte:

 Passo de seguida à leitura deste enigma epigráfico – que fui eu quem o interpretou em 1980 e até ao momento o único a tê-lo decifrado, além da primazia de revelar a existência da Pedra de Kurat, comummente chamada “Pedra da Boiça”, o que levou o maior epigrafista nacional vivo a perguntar-me assombrado como eu soubera tais coisas, e lhe respondido que “um passarinho segredara-me ao ouvido” – o qual se compõe, na realidade, de escrita jina do alfabeto Vatan ou, se se quiser, Atlante.

Isso atendendo a que as duas primeiras Raças-Mães (Polar e Hiperbórea) eram mudas, e os primeiros homens que conseguiram falar, a partir da metade da 3.ª Raça-Mãe Lemuriana, aprenderam com os animais. Esta linguagem primordial usada pela Humanidade primitiva chamou-se Linguagem Totémica, foi desenvolvida na 4.ª Raça-Mãe Atlante e tomou os nomes de Vatan ou Vatanan originando o Devanagari, e até hoje é a mesma usada pelos Munis e Todes para se entenderam com os Totens dos vários Reinos. Associa-se à Língua Senzar, mas esta é uma linguagem interior ou muda – a Filia Vocis, poeticamente chamada Voz do Coração e Voz do Silêncio – e aquela é exterior ou falada, passando a Escrita Assúrica na qual os símbolos expressam realidades de ordem transcendente, abarcando simultaneamente os Mundos Físico, Psicomental e Espiritual.

O primeiro petroglifo na primeira linha, corresponde à 16.ª letra devanagari do primitivo alfabeto sânscrito, Ta, ou à egípcia To, logo seguido do segundo petroglifo, Ma. Portanto: “toma, tomai, caminho”. Seguidamente o terceiro petroglifo, Da ou Em, ligando-se ao quarto, relacionado com a 22.ª letra devanagari (a “Escrita de Shiva”, o Espírito Santo), Pha, e a 19.ª vatânica, Ĥe, logo: “frente, adiante”. Segue-se o outro petroglifo, , em egípcio, e com a seta apontando para baixo: Ta, também em egípcio, deduzindo-se: “para, sol, indicativo”. Por fim, o último petroglifo da linha, Ka, 11.ª letra do Vatan significando “alma”, e Ĥe, “acima, suprema”. Logo, “Alma Suprema”, que com a anterior equivale a “Espírito do Sol”.

Assim, tem-se:

– SEGUI O CAMINHO ILUMINADO, EM FRENTE, RUMO À LUZ SUPREMA.

Na segunda linha, o primeiro petroglifo apresenta-se com duas letras. A letra cimeira é a 20.ª do Vatan, Te, e a segunda a 34.ª, La, donde: “levantai-vos, erguei-vos”. Vem depois o segundo petroglifo, cujo traço horizontal formando ós, além do h e do m, designam o “homem”. Segue-se o terceiro petroglifo como junção de duas letras jinas: Ya, e Ga, justamente a 10.ª e a 3.ª do supracitado alfabeto, significando: “juntos, unidos”. Aparece em seguida o quarto petroglifo, com o traço horizontal não tocando um dos ós, que assim forma um u, além do h e do m, portanto, tem-se “mulher”. Logo vem o quinto petroglifo que, sem o acento indicativo no ó inferior, quer dizer Phe em devanagari, e com a terceira letra vatânica Ga, leva a: “elevai, subi, ascendei, despertai” a: Kundalini (sexto petroglifo), a Luz Interior, recebendo o fluxo espiritual do Sol, de Fohat por cima dela (5.º petroglifo da 1.ª linha). E esse despertamento só será justo e perfeito se o Homem e a Mulher dominarem e sublimarem as suas paixões e instintos inferiores, enfim, a passional natureza carnal (sétimo petroglifo).

Desse modo, compõe-se:

– ERGUEI-VOS UNIDOS, HOMEM E MULHER! DESPERTAI A VOSSA LUZ INTERIOR PELA SUBLIMAÇÃO DA NATUREZA INFERIOR.

Na terceira linha, o petroglifo em primeiro lugar é o mais complexo por compor-se de vários hierogramas: o X é a 30.ª letra vatânica, Qe; o vaso é a 25.ª, ne; as asas do vaso o triângulo vertido, Pe, e o triângulo invertido, Pa, as 28.ª e 39.ª letras do mesmo Vatan; a Árvore da Vida iluminada pelo Sol, são os três tramos do arbusto (a sarça ardente?) com a esfera cimeira, que querem dizer “uno-trino” em língua jina. Portanto: “No relicário do coração a Trindade é Unidade”. Vem depois o segundo petroglifo que faz lembrar um deva, uma criatura angélica, sendo composto de três siglas: 8, “infinito”, S, a 33.ª letra vatânica significando The, “conter”, e a 11.ª Ka, “alma”. Logo: “a Alma contém o Infinito”. Curioso o traço no cimo da figura sugerir o chakra coronário apontando Kundalini imediatamente acima. Segue-se o terceiro petroglifo, também ele formado por três letras jinas: a 6.ª, “ora”, a 12.ª, “e”, e a 17.ª, “ore”, isto é: “ora e labora”, o mesmo que “por espirituais esforços”. Desfeche o quarto petroglifo, a “chave”. Simbólica e realmente, a “chave canónica” (Pushkara) é a única que dá direito a abrir os portais dos Mundos Subterrâneos. Por isso mesmo, além de matemática ou canónica, representa em si a tradicional “Palavra Perdida” (Xem-Ha-Meforax), a que se referem os Adeptos Vivos (um destes o próprio São Francisco de Assis, da Linha dos Místicos ou Amorosos que é a Kut-Humi), guardada no Sanctum Sanctorum da MANSÃO DO AMANHECER: o LABORATÓRIO DO ESPÍRITO SANTO como a mesmíssima SHAMBALLAH, com a qual SINTRA tem relações íntimas desde os tempos mais remotos, pois que também esta MONTANHA SAGRADA, no seu papel crucial do Presente para o Futuro, é igualmente a ARA DO FOGO SAGRADO, ou por outra, o SOL DO NOVO AMANHECER.

Voltando à frase da terceira e última linha, tem-se na composição final:

– EM VOSSO CORAÇÃO MORA DEUS UNO-TRINO, E A VOSSA ALMA ABARCARÁ O INFINITO SE, POR ESPIRITUAIS ESFORÇOS, OBTIVERDES A CHAVE DA REALIZAÇÃO.

Quanto ao número de símbolos da Pedra, 17 (número do biorritmo de Portugal), corresponde à 17.ª lâmina do Tarot de JHS: “O Verbo em Acção. A Trajectória dos Avataras do Céu à Terra (Vitória de Akbel)”. Sendo no Tarot Sacerdotal Aghartino “A Imortalidade”, acompanhando a lâmina a respectiva legenda: “Eu via o Sexto Sistema. Um Sol Central tinha por embrião enorme Borboleta saindo de um Ser de aspecto feminino. Tive a impressão de que chocavam enorme Ovo, que era aquele mesmo Sol”.

O 17 mais as 3 linhas dão o número 20, que como Arcano de JHS é o da: “Metástase Avatárica. Saída do Ciclo de Necessidade”. E como Arcano de Agharta é “O Julgamento”, com a legenda correspondente: “Eu via um vasto cemitério, de cujos túmulos saía uma luz violácea… Um grande Ser, cercado de luzes, trazia uma Espada Ígnea; tinha de cada lado um outro Ser: um de encarnado com uma espada e outro de verde, com uma palma”.

Numa composição livre, rimada, a desfechar este tema singular, assim posso dispor as frases componentes da mensagem epigráfica da Pedra Santa de Kurat:

 

Tomai o caminho certo

Ide adiante com paz serena.

Nada está morto nem encoberto

A quem ruma à Luz Suprema.

 

Erguei-vos, ó Humanidade!

Elevai-vos com resolução,

Todos juntos, em unidade,

Acima da fera paixão.

 

Vossa Alma o Infinito terá

Se a Chave da Luz tiver.

E não mais esforço haverá

Quando com Deus viver.

 

Créditos fotográficos: Arquivo Comunidade Teúrgica Portuguesa e Paulo Andrade.

Obra referencial: Sintra, Serra Sagrada (Capital Espiritual da Europa), por Vitor Manuel Adrião. Editora Dinapress, Lisboa, Abril de 2007.

 

O Hexalfa é igual à Alma Universal – Por Vitor Manuel Adrião Quinta-feira, Jan 13 2011 

Baalbeck

 

O hexagrama é também chamado hexalfa, estrela ou escudo de David (em hebraico, Maghen David, e em árabe, Dir´a Seyid-n Dawûd). É formado pelo entrelaçamento de dois triângulos equiláteros, um vertido e outro invertido, os quais simbolizam as naturezas espiritual e humana criadas à imagem do Divino (assinalado no emblema como todo). Os seus seis vértices correspondem às seis direcções do espaço (norte, sul, leste, oeste, zénite, nadir) assinalando a conclusão do movimento universal relativo aos seis Dias da Criação, sendo que ao sétimo o Criador descansou. Neste contexto, o hexagrama tornou-se o emblema do Macrocosmos (com os seus seis ângulos de 60 graus = 360 graus) representando a Fonte Única, desta maneira aludindo à harmonia universal entre os processos da Criação e da Reintegração, ou seja, da união da criatura com o Criador, pelo que frequentemente aparece nos vitrais e frontões de igrejas cristãs como referência simbólica da Alma Universal, neste caso, representada por Cristo, ou por outra, por Cristo-Maria, o Espírito e a Matéria, ficando Aquele para o triângulo superior e Esta para o triângulo inferior, resultando do entrelaçamento dos dois o sentido de Substância Universal presidindo à Vida de tudo e todos como Pater Aeternus Omnipotens, o Pai Eterno Omnipotente.

Muito apreciado como emblema profiláctico, o hexagrama foi frequentemente adoptado como amuleto pelos povos cristãos e islâmicos, e não apenas no contexto popular judaico (chamado mezouzah e colocado à entrada das casas judias, como está consignado na Escritura Velha, em Deuteronómio, VI, 4-8).

Aliás, convirá sublinhar que o hexalfa, embora presente na Sinagoga de Cafarnaum (século III d. C.), só a partir do ano 1148 surgiria na literatura rabínica, especificamente no Eshkol Hakofer do sábio caraíta (qaraim ou bnei mikra, “seguidor das Escrituras”, sendo o Caraísmo uma ramificação do Judaísmo que defende unicamente a autoridade das Escrituras Hebraicas como fonte da Revelação Divina) Judah Ben Elijah, onde capítulo 242 expõe os costumes de pessoas do povo que aos poucos mudaram o símbolo do escudo de David de simples selo para um tipo de signo ou amuleto místico: “E os nomes dos Sete Anjos foram escritos na mezouzah… O Eterno irá guardar-te e este símbolo chamado escudo de David contém escrito no final da mezouzah os nomes de todos os Anjos”. Sendo assim, já no século XII este emblema possuía carácter místico e profiláctico, sendo frequentemente gravado como forma de amuleto protector.

O hexalfa tornar-se-á, durante o século XIII, atributo de um dos sete nomes mágicos do Metraton, o Anjo da Face associado à figura do Arcanjo Mikael ou São Miguel como o Chefe das Milícias Celestiais e o mais próximo de Deus Pai. Daí a sua associação ao Nome Divino Schaddai, chegando, posteriormente, a ser confundido com a Menorah (o candelabro de sete braço ou tramos flamejantes indicativos dos Sete Espíritos Diante do Trono: Mikael, Gabriel, Samael, Rafael, Sakiel, Anael, Kassiel), assumindo uma função redentora destacada na sinagoga e sendo apelidado Selo do Deus de Israel. Por isto o hexalfa figura na bandeira desse país.

Com efeito, a identificação da Estrela de David com o Judaísmo começou na Idade Média. Em 1354, o rei Carlos IV (Karel IV) concedeu o privilégio à comunidade judaica de Praga de ter a sua própria bandeira. Então os judeus confeccionaram, sobre um fundo vermelho, um hexagrama em ouro, que desde então passou a ser chamado de Bandeira do rei David (Maghen David), e tornou-se o símbolo oficial das sinagogas e da comunidades e de todas as obras saídas da lavra judaica. Chegando-se ao século XIX, este símbolo já estava completamente difundido por toda a parte, figurando nos carimbos judeus, nos selos dos livros impressos pela comunidade judaica europeia e sobre as cortinas das Arcas Santas (Tebah) nas sinagogas.

A mística judaica levou à alegação da origem do hexalfa estar directamente ligado às flores que adornavam a Menorah, feitas na forma de relevo de lírios de seis pétalas, fazendo uma silhueta parecida à forma desse símbolo. Para os que acreditavam nessa suposta origem do hexalfa, ele havia sido feito pelas mãos do próprio Deus de Israel, argumentando que o lírio é composto por seis pétalas num estilo algo parecido com a Estrela de David. De facto, essa flor é identificada com o povo de Israel no livro bíblico do Cântico dos Cânticos.

A par da sua função profiláctica, o hexagrama exerce a mágica, fama herdada da célebre Chave ou Clavícula de Salomão (em latim, Clavicula Salomonis ou Clavis Salomonis) que é um grimório pseudo-epigráfico, atribuído supostamente ao Rei Salomão, mas cuja origem muito provavelmente situa-se na Idade Média, com origem anónima em alguma escola judaica de estudos cabalísticos dentre as várias que então haviam na Europa, como se verifica no seu texto claramente inspirado em ensinamentos do Talmude e da Kaballah judaica. Essa obra contém uma colecção de 36 pantáculos (símbolos possuídos de significado de natureza mágica ou esotérica) destinados a possibilitar uma ligação entre o Mundo Físico e os Planos da Alma. Existem diversas versões da Clavícula de Salomão em várias traduções, com menores ou maiores variações do conteúdo entre elas, sendo que a maioria dos escritos originais que sobreviveram até hoje datam dos séculos XVI e XVII, no entanto havendo uma tradução em grego datada do século XV.

Como se disse, o hexagrama não constitui de todo um símbolo especificamente judeu. De facto, também no Alcorão (XXXVIII, 32 e ss.) e nas Mil e Uma Noites ele é apresentado como um talismã indestrutível por gozar da Bênção de Deus, proporcionando o poder total sobre os Djins, os “espíritos da Natureza”.

Conotado ao simbolismo do hexalfa, além deste exposto de forma clara, encontra-se nos templos cristãos o seu derivado hexafólio ou sexifólio, a estrela de seis raios e a rosácea ou roseta hexapétala, e apesar das suas numerosas variantes é normalmente interpretado como símbolo solar – o rosetão ou roseta do Sol, antigo símbolo mitraico herdado pelos cristãos para designarem Christus Sollis, o Cristo Solar ou Iluminado, e também a Rosa Mística da ladainha mariana, a Virgem Mãe de Deus, dependendo do sentido geral do simbolismo exposto a qual dos Dois se deve atribuir no caso particular esse símbolo.

Igualmente no Tibete e na Índia os lamas e brahmanes, que são os sacerdotes das respectivas religiões budista e hindu, adoptam este símbolo universal do hexalfa considerando-o o símbolo do Criador e da Criação. As cores originais dos dois triângulos entrelaçados eram o verde (triângulo superior) e o vermelho (triângulo inferior), apesar de posteriormente terem sido alteradas para as cores branca e negra, esta representando a Matéria ou Prakriti, em sânscrito, e aquela o Espírito ou Purusha, em sânscrito, duplo triângulo entrelaçado levando o nome inefável de Satguna Chakra ou Satkuna Chakram, o qual os brahmanes dão como sendo a insígnia do Deus Vishnu, cujas prerrogativas hipostáticas dispõe-no idêntico ao Filho na Trindade cristã.

Tem-se assim, na Trimurti hindu, para o triângulo superior do hexalfa, Brahma, Vishnu e Shiva, correspondendo na Trindade cristã ao Pai, Filho e Espírito Santo, enquanto triângulo inferior dispõe-se Shiva, Vishnu e Brahma, ou Espírito Santo, Filho e Pai. Por aqui se vê que o Filho ou Vishnu ocupa sempre o lugar do meio ou aquele que separa o Divino do Terreno como Hipóstase Celeste que é, e por isto a tal emblema se chama Satguna Chakra, que no Ocidente leva o nome gnóstico Estrela de Mercúrio, este no sentido mais que sideral, filosófico ao referir-se à Alma Oculta do Cristo, o que os Iniciados orientais chamam de Estrela Resplandecente de Maitreya – o Messiah ou Avatara Síntese manifestado sobre a Terra do Céu ou Sol Azul do Segundo Trono ou Mundo que é o de Vishnu, o mesmo Cristo Universal  e que vem a liderar as Hostes Luminosas de Akbel sobre a Terra, nesta onde no Presente se cria já o 6.º Sistema de Evolução Universal, sob a chancela de Mercúrio em cujo Gobo o Homem criará asas e será um Deva Luminosa, um Anjo Alado… depois de ser Andrógino Perfeito a caminho do Ser Flogístico com que findará a manifestação do Universo, dando lugar a outro sobre o qual todas as conjecturas revelam-se vãs e perdem-se em elocubrações dum longínquo Porvir.

Assim, resta defechar com breve trecho respigado a um Livro Sagrado, o qual resume de forma magnífica os princípios e finalidades da Obra Teúrgica sobre a Terra:

No dia em que a Estrela Luminosa de Mercúrio inclinar da fronte de Maitreya sobre a Terra e se ouvirem os cantos dos Dharanis e as palavras dos Dhyanis, e os homens sob o Pendão Universal  de Maiores Homens  a eles se unirem felizes três vezes, vendo o Redentor da Vida e da Morte em si mesmos, finalmente esse será o Dia do Sede Connosco!