A Peninha da Serra é um pedestal de penhas donde se abarca vasta visão de Sintra à Arrábida. Um ninho de águias feito por titânicos e misteriosos desígnios.

Ela marca o final ou o início, depende de como se começa o itinerário, do Sistema Geográfico Sintriano. Na base do seu morro está a capela de São Saturnino, tosca de traça românica muito alterada e em estado adiantado de degradação, cuja origem recua aos primórdios da Nacionalidade pois “dizia-se ter sido fundada por Pêro Pais, um dos companheiros de D. Afonso Henriques”[1].

Pêro Pais pertencia à linhagem dos Maias com origem em familiares próximos de D. Ramiro II, rei de Leão, havia desempenhado o cargo de signifer ou signífero (“porta-bandeira”) de D. Afonso I de Portugal e “deixara a Corte retirando-se para a Serra a fim de fazer penitência”, segundo o Visconde de Juromenha[2]. Com efeito, os conquistadores cristãos de Colares (cerca de 10 kms distante de Sintra) haviam sido comandados por Pedro ou Pêro Pais, alferes-mor e “porta-bandeira” de D. Afonso Henriques, que veio a abraçar a vida eremita na serra, aqui mesmo em São Saturnino da Peninha, onde fundou uma cella ou ermida onde viveu largo tempo, a qual nos fins do século XV foi ampliada para capela e hoje é o templo cristão mais antigo de toda a Sintra e arrabaldes[3]. Passado algum tempo, Pêro Pais acabou abandonando o seu eremitério e desceu para Colares onde fundou outra cella, que veio a dar na ermida de Nossa Senhora de Milides, termo significando “olhos de mocho”, a ave da prudência e do saber, o que relaciona Milides com Minerva, a deusa grega da sabedoria. A prova de que o antigo guerreiro era eremita famoso, encontra-se na doação que D. Sancho I lhe faz de Cellas ou Colares em 1192: “Petro heremite de Sintria”.

Ruína da Capela de São Saturnino da Serra de Sintra

Ruína da Capela de São Saturnino da Serra de Sintra

Muito possivelmente, Pêro Pais andaria próximo das doutrinas sufis da heterodoxia corânica ministradas na carvoaria, espécie de mosteiro de recoletos do Islão, da Azóia ou az-zawiya, vizinha de Almoçageme (al-mesjide, “a mesquita”), junto ao Cabo da Roca ou da Serpente (serpens ou cola, donde também colir, o colar serpentário possível indicativo de pressupostos cultos ctónicos neste lugar), na qual, a par do estudo e entendimento das escrituras sagradas, se preparavam as milícias da Crescentada para a jihad, igual na Cruzada à guerra justa, temas desenvolvidos tanto por Becre David Al-Xintari como por São Bernardo de Claraval, padroeiro da Ordem do Templo e pai espiritual de Portugal, dando prosseguimento ao que enunciara Santo Agostinho de Antioquia, um dos Doutores da Igreja sem deixar de ser neoplatónico.

O primeiro historiador de Colares foi o árabe Abu Ibne Mahmud Al-Qazwini (1203-1283), na sua geografia Ajâ´ib al-Buldân (“Maravilhas dos Países”), tecendo as maiores loas a Colares equiparando-a a um “paraíso maravilhoso”, certamente não só pelas suas fartas riquezas naturais mas também por ser lugar de paz e onde em paz se podia aprofundar a praxis litúrgica no respectivo mosteiro ou azóia, junto ao cabo-mar na extensão da Serra Sagrada reconhecida e assumida pelos Iluminados Maridjs a Qut-Xvarnah, o Pólo do Espírito Santo algo idêntico ao Chakra Vishuda dos hindus, correspondendo ao lugar do Laríngeo por onde escoa o Verbo inflamado pelo Fogo Criador do Espírito de Santidade (chamado Kundalini e que é representada pela mesma serpente, cola ou colir, que nesta parte colarense, em São Saturnino – Cabo da Roca, está representada na víbora cornuda, a vípera latastei).

Víbora cornuda (vípera latastei) da serra de Sintra

Víbora cornuda (vípera latastei) da serra de Sintra

No século XVI, a veneranda imagem de Nossa Senhora da Peninha era motivo de culto e romaria anual pela população de Sintra, Colares, Cascais e Milharado, organizada em confraria, e cerca de 1579 a ermida foi elevada a capela – com direito a capelão – tendo recebido melhoramentos e ampliações. Ela veio a possuir um rico altar cujo painel frontal era em azulejo policromado do século XVII, segundo José Azevedo[4], o qual está hoje no Museu do Azulejo, em Lisboa. A sua composição é a seguinte: dentro de um ornato circular está uma fita acompanhando o círculo, com a legenda: “Esta obra mandaram fazer os oficiais da nau Nossa Senhora da Oliveira”, e noutra fita horizontal, tangente à primeira na sua parte inferior: “De Gimarois – Era de 1636”. Segundo Virgílio Correia[5], o painel fora oferecido à Senhora de São Saturnino pelos marinheiros da nau Gimarois que esteve em risco de naufragar defronte ao Cabo da Roca, de onde se avista esta capela cuja Orago os assistiu e salvou na aflição do mar tormentoso.

“Gimarois” é, bem entendido, Guimarães, onde está a linda igreja de Nossa Senhora da Oliveira, sede da mais antiga confraria católica portuguesa, sendo ainda a oliveira simbólica da Árvore da Vida e do Presbiterianismo na cultura mediterrânea. Esse frontal azulejado de altar mostra ainda, no cimo, uma fita circular cortada por uma flor-de-lis ladeada por dois ramos de oliveira levantados, e em baixo também é também cortada por outro ramo da mesma árvore, tombado; ao centro, domina uma mitra episcopal levantada um báculo pastoral deitado. O conjunto representa a sumidade pontifical incarnando a Autoridade Espiritual, sinónima de Tradição e Conhecimento. No conjunto, o frontal é um quadrado com oito azulejos de cada lado e não se sabe quando foi retirado daqui, contudo sabendo-se que em 1673 ainda se oficiava o culto a Virgem da Peninha nesta capela. O seu imobiliário litúrgico também devia ser rico, pois há notícia de haver nela uma mitra de prata ornada com pedras preciosas, datada de 1764. Essa igualmente não se perdeu: está no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa[6].

Quanto ao onomástico São Saturnino, a sua pessoa figurando na hagiografia cristã possivelmente terá sido inspirada na greco-romana do pai de Júpiter, Saturno, o deus que se retirou para a Lácia e ali construiu a Idade de Ouro, como igualmente António Augusto Carvalho Monteiro se retiraria para este lugar inóspito em guisa de aqui reviver o espírito anacorético dos inícios do Cristianismo, mandando construir uma “Regaleira pequena” onde, quiçá, discreto e isolado, pudesse dedicar-se a misteriosas e alquímicas fábricas auríferas.

Enquanto Júpiter, como “Pai” do Céu, é o aspecto superior de Saturno, como “Pai” da Terra”, nisto o mesmo Saturnino como Saturno também é Cronos, o deus do Tempo que demarca os Ciclos tradicionais da Vida Universal, alegorizado naquele gigante mitológico devorador dos seus próprios filhos[7], isto é, o que regula fatalmente o período de existência corporal de um e de todos os seres viventes, saídos da existência intemporal para um dia volverem engolidos nas entranhas do Pai Eterno. Com toda a certeza Carvalho Monteiro conhecia esse mito grego[8], ou não teria mandado esculpir um relógio solar numa penha sob o seu palácio, ademais sendo possuidor do relógio mais completo e complexo do mundo em seu tempo. Sim, para um estudioso como ele era da filosofia clássica, certamente não lhe era desconhecido o elementar de Cronos ser o deus do Tempo e o padroeiro dos relojoeiros cuja arte é ofício tradicional.

Cemitério para nados-mortos, marcado pela cruz franciscana, lateral à capela de S. Saturnino de Sintra

Cemitério para nados-mortos, assinalado pela cruz franciscana, lateral à capela de São Saturnino de Sintra

A propósito do interesse saturnino ou cronosiano de Carvalho Monteiro, transcrevo a notícia publicada por Leonor Figueiredo faz alguns anos[9]:

“DAR AS HORAS DE 125 LOCAIS… – Um relógio ultracomplicado está hoje exposto no museu de Besançon, em França. Relógio esse que pertenceu e, segundo os netos, foi idealizado pelo próprio Carvalho Monteiro.

“Trata-se dum exemplar em ouro executado em Besançon e Paris de 1897 a 1901. Foi o próprio rei D. Carlos que o trouxe da capital francesa. A autoria é dada ao relojoeiro L. Leroy no livro “Evolution de L´Horlogerie” de Lucien Balvay, onde nem sequer o nome de Carvalho Monteiro é referido.

“É notável o número de informações que fornece. A hora, o minuto, o segundo, os dias do mês, os anos bissextos, as estações do ano, solstícios e equinócios.

“Também por este objecto se pode saber a fase da Lua e o estado do céu nos hemisférios boreal e austral. A parte que representa o céu está animada de movimento sideral.

“Um mostrador indica a hora de 125 cidades do Mundo, onde se inclui Lisboa. Indicando também, nesta última, a hora do nascer e pôr do sol.”

relógio de sol mandado insculpir por António Carvalho Monteiro numa penha sob o seu Palácio da Peninha de Sintra

Relógio de sol mandado insculpir por António Carvalho Monteiro numa penha sob o seu palácio da Peninha de Sintra

Marcando o espírito de colecionador de Carvalho Monteiro, também Regina Anacleto faz referência ao famoso relógio e ao que lhe sucedeu depois da morte do seu proprietário, nisto devendo registar que a autora serviu-se de informações imprecisas provavelmente oriundas de fonte obscura que vincasse algum tipo de tese jacobina. Diz[10]:

“Colecionava moedas, armas, relógios, borboletas, mobiliário, pratas e livros, a par de um bricabraque vultuoso, como ainda era uso e costume na época. O seu conhecido relógio de fabrico francês que marcava, para além das horas, os meses, dias, anos, fases da Lua, eclipses e outros fenómenos deste tipo até ao ano dez mil, foi transacionado pelo filho a um cigano por 200$00; este, com o seu espírito de negociante, vendeu-o, pouco tempo depois, a um museu suíço, onde presentemente se encontra, por 200.000$00.”

A história deste relógio, identificado como Leroy 01, começa em 1867 quando o moscovita conde Nicolas Nostitz encomendou à famosa casa de relojoaria Le Roy & Fils, mais tarde L. Roy & Cie., um relógio com onze complicações, que veio a ser exposto na Exposição Universal de Paris de 1878 antes de ser entregue ao conde. Com a morte deste, em 1897 o dr. António Carvalho Monteiro adquiriu o relógio, porém, mandou acrescentar-lhe mais complicações. Com efeito, enviou-o a Louis Leroy acompanhado de uma carta dando instruções resumidas no seguinte: fabricar um relógio que reunisse tudo o que a ciência e a mecânica da época pudessem reunir num objecto portátil. Assim foi feito, e essa obra única da arte relojoeira veio a admiração geral na Exposição Universal de Paris de 1900, catalogada como Leroy 01 – ultracomplicado. O resultado de três anos de pesquisas reuniu 24 sistemas (complicações), 975 peças, num mecanismo de 4 níveis contidos numa caixa de ouro (com tampa gravada com ilustração mitológica encomendada por Carvalho Monteiro a Luigi Manini) decorada com pérolas, esmeraldas e rubis, com 228 gramas de peso e 7 cm de diâmetro. Desenvolvido e aperfeiçoado pelo especialista e célebre relojoeiro de La Vallé de Joux (localidade suíça célebre pela concentração de relojoeiros famosos), Charles Piguet au Brassus, o relógio foi concluído e montado nos ateliers de L. Leroy na Square St. Amour. Mas ele só chegou a Portugal em 1905 trazido pelo próprio rei D. Carlos, fiel cliente da marca que entretanto estava em Paris, tendo-o entregue pessoalmente a Carvalho Monteiro no Palácio das Necessidades, em Lisboa. A obra custou 20.000 francos.

Além dos mecanismos das horas, minutos e segundos, o Leroy 01 oferece ainda: 1) dia da semana; 2) dia do mês; 3) calendário perpétuo dos meses e dos anos bissextos; 4) milésimo por cem anos; 5) fases da Lua; 6) estações do ano, solstícios e equinócios; 7) equação do tempo; 8) cronógrafo; 9) contador de minutos com retorno a zeros; 10) contador de horas; 11) mecanismo de mola; 12) toque regulável em som forte, médio e silencioso; 13) repetição da hora, dos quartos e dos minutos, com três timbres, tocando como um carrilhão; 14) estado do tempo no hemisfério boreal, no momento do dia, indicado pela data (o céu estando animado pelo movimento sideral, isto é, avançando 3 minutos e 56 segundos por dia sobre o tempo médio; a representação do céu e do horizonte de Paris, com 236 estrelas; a representação do céu e do horizonte de Lisboa, com 560 estrelas); 15) estado do céu no hemisfério austral (no meio de um mecanismo de recarga que anima o céu por um movimento de rotação de oeste para este, a representação do céu e do horizonte do Rio de Janeiro, com 611 estrelas); 16) hora de 125 cidades do mundo; 17) hora do nascer do sol em Lisboa; 18) hora do pôr do sol em Lisboa; 19) termómetro metálico centígrado; 20) higrómetro de cabelo; 21) barómetro; 22) altímetro para 5000 metros; 23) sistema de acerto do relógio sem abri-lo; 24) bússola.

Leroy 01, o relógio de Carvalho Monteiro. Fotografia sem data, produzida durante a actividade do Estúdio Mário Novais: 1933-1983. Biblioteca de Arte – Fundação Calouste Gulbenkian

A chegada do Leroy 01 a Portugal não passou desapercebida e foi motivo de notícia num número do Diário de Notícias de Janeiro de 1905, com o título: “Um relógio de 4 contos de réis do exm.º sr. dr. Carvalho Monteiro”, artigo ilustrado com duas fotos do relógio que é descrito com minúcia. Só 33 anos depois da morte de Carvalho Monteiro, em 1953, em vista das dificuldades económicas que passavam, os seus herdeiros demonstraram interesse em vender essa peça, entretanto adquirida por um joalheiro português que a levou a Besançon, na França. As autoridades francesas locais mostraram interesse em adquirir o “relógio mais complicado do mundo”, e lançaram uma subscrição pública nacional para recolher os dois milhões de francos pedidos pelo vendedor. A 26 de Março de 1955 foi finalmente adquirido e passou a figurar no Museu do Tempo do Palácio Granvelle, em Besançon, sendo actualmente conhecido por Lucie, em homenagem à sua conservadora Lucie Cornillot que foi quem fechou o negócio da compra do relógio. A peça voltaria por breves dias a Lisboa em Novembro de 1967, por motivo da ocorrência no Hotel Ritz da “Jornada do Relógio Francês”, sendo nessa ocasião exposto “o relógio mais complicado do mundo, o L1”[11].

Esse relógio de bolso mandado executar por Carvalho Monteiro com desenho decorativo de Luigi Manini no tampo; no cimo deste vê-se a letra grega ômega envolvendo uma coroa de conde, por certo evocativa do titular anterior da peça, o conde Nicolas Nostitz, mas também e alinhando com o Brasão Nacional no fundo do tampo, alusivo ao Condado Portucalense, e possivelmente ao tempo de um ciclo português que finda para outro que haverá de dealbar. Com efeito, tem-se em baixo o deus Cronos ou Saturno prostrado sobre as Armas de Portugal, com o braço esquerdo cruzando o monograma CM (Carvalho Monteiro) no centro do conjunto, em guisa de apontar a intemporalidade do nome da família na temporalidade de que ele é deus alado, expressando a libertação das almas do cativeiro carnal; por cima dele, representam-se as três Parcas romanas ou Moiras gregas, as tecelãs do destino: no topo, Átropos ou Morta, ameça cortar com a tesoura o fio da vida que cerca o redondo do tampo e marca o ciclo da existência, com isso assinalando a morte que é o futuro fatal de todos os seres vivos; Cloto ou Nona, à esquerda, segura a roca de onde sai o fio da vida, correspondendo ao nascimento e ao momento presente; Láquesis ou Décima, à direita, enrola o fio no fuso, remetendo todas as coisas e seres para o passado e o olvido[12]. Ainda nos lados, à esquerda está a Cruz da Ordem de Cristo e à direita a Cruz da Ordem de Avis, emblemáticas do Poder Temporal e da Autoridade Espiritual assinalando o ciclo de Portugalidade, aliás, assinalada nas Armas com quinas em cruz no fundo do tampo.

No ermo de São Saturnino, que insolitamente Carvalho Monteiro elegeu para si, muito antes do culto paleocristão a esse santo terá havido aqui ou nas proximidades algum santuário rupestre da cultura oestriminide ou ligúrica ao deus (Endo)belos, o mesmo Baal da cultura púnica, e como testemunho litolátrico do passado remoto vêem-se nas penhas no alto do morro da Peninha uma série de covinhas possivelmente destinadas a algum tipo de culto votivo, além de não muito longe estarem o tholos chamado “do Monge” e a anta de Adrenunes (André Nunes), esta em alinhamento directo à ponta extrema do Cabo da Roca. Isto levou Paulo Pereira a considerar[13]: “Por detrás da Capela de São Saturnino, alcandorada no âmago de pedras deste monte, encontra-se a Capela da Peninha. É certo que o local, de onde se avista todo o arco da barra do Tejo, deveria ter sido precedido por um santuário pré-histórico cuja memória se perpetuou nesta humilde capela. O invulgar orago remete para cultos saturnianos, em tudo semelhantes aos que se podem encontrar nos Cabos de Sagres e de São Vicente, este dedicados também a divindades saturnianas ou ligadas ao Tempo, entendido como ciclo e sucessão vital face à disposição astral dos corpos celestes – neste caso o Sol poente (Baal, Hércules, Kronos, Saturno). Será pois uma manifestação típica dos cultos das finisterras, neste caso a do próprio Cabo da Roca, que dali se avista”.

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O Cabo da Roca, pela sua clara importância geográfica, não poderia deixar de suscitar forte temor e veneração aos marinheiros fenícios da Proto-História, época em que terão elevado aqui um santuário consagrado a Baal-Saturno, o mesmo Cronos-Saturno[14], hipótese muito verosímil apesar de faltarem as comprovações arqueológicas. Saturno representava o princípio masculino da luz, do fogo e do calor, motivo para o associarem ao “Sol da Meia-Noite”, mas também o de deus da fertilidade agrícola e da renovação cíclica das energias da Terra, nisto sendo representado por um touro que lhe era consagrado e sacrificado, animal que tem papel central na hagiografia de São Saturnino[15].

Com efeito, é dito que São Saturnino viveu no século III e atribuem-se-lhe muitos milagres e numerosas conversões, dentre elas destacando-se a de um fazendeiro de Nimes, chamado Honesto, a quem ordenaria sacerdote e o qual, desde então, se tornaria, com São Papul, o seu fiel companheiro. Foi também São Saturnino quem, em Navarra, baptizou São Firmino, futuro bispo de Ambiano (Gália), hoje Amiens. Em Tolosa, por ser firme na sua fé, os gentios amarraram-no a um touro que em grande correria o arrastou pelas ruas da cidade, causando-lhe morte horrorosa[16]. Por isso, o atributo iconográfico de São Saturnino passou a ser o touro. Signo venusto, aceite como emblema de energia vital e fonte de fertilidade entre os povos primitivos, participa, tal como outros animais cornúpetos, porém representando-os a todos, de todo o tipo de cultos. Com isso, o taurobólio – que viria a dar nas vulgares touradas – veio a representar o sacrifício da Era de Taurus, a imolação da Divindade às mãos do Homem que almeja alcançar o Seu poder e significado transcendente, deicídio esse expressado pela sujeição corporal às penas agrestes da Natureza característica da vivência eremita, no pretenso de absorver-se na condição incorporal que lhe dará acesso e posse da Consciência de Deus, facto interpretado como o «sacrifício» simbólico do Criador mãos da Sua criatura que assim se torna igual a Ele.

Quanto à imagem milagrosa da Virgem deposta na capela no alto no monte da Peninha, já não é a original que datava do século XVI. Quanto a quem erigiu o templo, foi Pedro da Conceição, “canteiro de seu ofício e homem iluminado”[17]. Tinha 28 anos de idade na altura em que construiu a capela (1690) custeada pelas esmolas recebidas do povo devoto dos lugares arredores (Malveira da Serra, Azóia, Almoçageme, Colares, etc., e até quase ao início de 1990 fez-se aqui romaria de importante Círio saloio à Senhora da Peninha[18]), tendo contado ainda com a ajuda directa do rei D. Pedro II. Faleceu no dia 18 de Setembro de 1726, notícia atestada pela inscrição tumular vista a meio da coxia da ermida e que assim reza:

Sª DO IRMITA.

O. Pº DA CÕCE

ÇÃO PEDE HV

P. N. E HVA. A

VE. Mª PELOS

BE. FEITORS

FALº EM. 18. DE

SETRº D. 1726. Ã.

Traduzida:

Sepultura do ermitão

Pedro da Conceição pede

um Padre Nosso e uma

Avé Maria pelos benfeitores.

Faleceu em 18 de Setembro

do ano 1726.

Por cima do arco triunfal lê-se, em círculo, esta legenda:

O I. Pº FES ESTA. OBRA.

COM ESMOLAS. DOS. FIEIS.

ANº DE 1690.

O Irmão Pedro fez esta obra com esmolas dos fiéis. Ano de 1690.

Após a morte de Pedro da Conceição, tendo gasto na obra todo o dinheiro que possuía e vivido 35 anos numa gruta ou cella próxima daqui, sucedeu-lhe o ermitão João Francisco, que ao falecer em 1766 foi sucedido por Sebastião Nabo, com quem termina a sucessão de eremitas neste lugar que, posto assim, parece ter funcionado como Deserto. Em 19 de Abril de 1779 o padre Pedro Rodrigues Pereira é nomeado capelão do santuário da Peninha, numa altura em que a capela e a cerca estavam a ser administradas abusivamente por Francisco Xavier Stokler, como dá conta o beneficiado da igreja de São Martinho de Sintra, padre Francisco de Albuquerque. A querela prolongou-se até 1892, quando a Peninha foi adquirida pelo conde de Almedina, e em 1918 veio finalmente a ser adquirida pelo dr. António Augusto Carvalho Monteiro.

Os azulejos que revestem a nave da ermida são lindíssimos e datam do século XVIII. Espelham os 44 Passos da Vida da Virgem Maria – Vitam Maria – recheados de símbolos referentes à mesma, muitos deles de origem carmelita o que deixa pressupor a influência e presença aqui da Ordem do Carmelo, possivelmente a sediada em Cascais que se trasladaria para Colares, reparando o professor Virgílio Correia[19] que “são do estilo de António de Oliveira Bernardes, azulejista e decorador do século XVIII, e que atendendo à sua data (1711) e a outras afinidades, a atribuição é verosímil”. António de Oliveira Bernardes nasceu no terceiro quartel do século XVII e morreu em 1732. O professor Virgílio Correia chama ainda especial atenção para o painel que se encontra na parte interna do tímpano, “em que se divisam quatro anjos de movimentação muito elegante e graciosa, os quais envolvem uma data escrita no próprio azulejo: 1711”.

A capela-mor é toda forrada de um tapete de mármores da região, de várias cores (branco, negro, rosado e amarelo), e o altar, tal como o púlpito, é revestido por belos embutidos do mesmo material e com as mesmas cores.

Como já foi dito, a imagem que santificava o altar-mor já não era a primitiva do Orago, pois essa era “tosca”, como está relatada na lenda do sítio sobre a aparição da Virgem, nos finais do século XVI, a uma moça surda e muda guardadora de ovelhas[20]. A veneranda imagem da Senhora da Peninha, mais recente, muito bem trabalhada e de rosto muito expressivo, possivelmente dataria dos inícios do século XX.

Ainda sobre a lenda mariana relatada por frei Agostinho de Santa Maria, ela quase que serve de “lenda de fundação” ao supradito Círio à Senhora da Peninha, como descreve com muita propriedade Manuel J. Gandra[21]:

“A Serra de Sintra, que avançava muitas centenas de quilómetros para Sudoeste, sofreu grande afundamento, originando-se com ele o actual estuário do Tejo, o qual antes (Miocénico) desembocava com o Sado num extenso delta comum, que abrangeria a região desde Ferreira do Alentejo a Alenquer. O santuário de Nossa Senhora da Peninha alcandora-se num penhasco da Serra de Sintra, situando-se sobranceiro ao mar, na freguesia de Colares. (…) Na Azóia atribui-se a fundação do santuário a seis marinheiros que, por andarem perdido no mar, haviam feito promessa de construir uma igreja na primeira terra que avistassem, versão que é seguida em Atalaia e Malveira da Serra, onde corre que “a Senhora da Peninha era advogada dos marítimos”, o que parece crível, atendendo a três ex-votos, um dos quais naviforme, provenientes do templo (no Museu Regional de Sintra); em Almoçageme, além de se afirmar que a menina “veio dos Milheirados [Milharado] trabalhar para a Malveira [da Serra]”, indo pastar o gado para a serra, onde ocorreu o episódio tal como o Santuário Mariano o narra (motivo por que “os dos Milheirados fizeram uma festa – no mês de Setembro – e vinham em círio festejar a Nossa Senhora da Peninha”), conta-se que “a Senhora da Peninha tem sete irmãs, por isso quis ir para o alto do penhasco, porque aí avistava as sete irmãs, que são: a Senhora da Atalaia, a Senhora da Pena, a Senhora da Penha de França (Quinta da Arriaga, próxima de Almoçageme), Santa Eufémia, Santa Quitéria de Meca – a advogada dos cães danados[22] –, Santa Baziliza (Guia, Cascais) e a Senhora do Cabo (Espichel)”. Do Círio há notícias desde 1579. Uma inscrição patente na fonte da Peninha refere-se a uma romaria proveniente de Lisboa, no ano de 1739, porém, segundo Frei Agostinho de Santa Maria, a primeira confraria de Nossa Senhora da Peninha foi instituída por devotos do Milharado, tradição corroborada por afirmações como: “A Peninha era dos milharandos, eles é que faziam a festa; o’pois deixaram de vir e os azoianos ficaram com a Peninha; o’pois acabou” (Amélia Maria, Malveira da Serra); ou “Os milharandos faziam lá na Capela de Nossa Senhora da Peninha a festa – o Círio – todos os anos, e deixavam as louças de uns anos para os outros, louças lindas! E foram lá da Azóia e roubaram as louças, o manto e as toalhas[23]. Os ladrões morreram todos empenados (curvados), foi um espelho para as pessoas verem quem tinha roubado a Senhora” (António Manuel Rodrigues, Azóia). Na Cintra Pinturesca (p. 160) lê-se que em 1905 ainda vinha um círio do Milharado, reportando-se, contudo, ao ano de 1909 (3-6 Set.) a derradeira notícia documentada acerca de tal evento.”

Mas ele prosseguiu para além dessa data, como está documentado fotograficamente no livro citado, O Trabalho e as Tradições Religiosas no Distrito de Lisboa, com fotografias da romaria à Senhora da Peninha datadas de 1986, informando ainda que “a romagem e Círio provinham de Colares, Sintra, Milharado, Malveira da Serra, Azóia e São João das Lampas”.

Fonte no caminho para o Santuário da Peninha

Fonte dos romeiros no caminho para o Santuário da Peninha

No altar-mor da ermida, além do Orago existiram mais cinco imagens: Santa Rita de Cássia, São Miguel Arcanjo, São José, Santo Agostinho e São Brás. Ainda no altar, tinha-se a imagem do Senhor na Cruz cujas extremidades dos palos desfechavam em flores-de-lises prateadas, e era assim mesmo que a tomavam como emblemática das suas agremiações operáticas os monges construtores medievais, e depois as confrarias de mestres canteiros organizados em guirlandas de ofícios nos inícios da Renascença. Para eles, Santa Maria era a sua padroeira universal e tomando-a como exemplo da incarnação do Divino Espírito Santo na Matéria, serviam-se desta para deixar o testemunho, através das artes de pedreiro e carpinteiro, da Perfeição Divina com que foi feito o Mundo todo resumido na Casa do Senhor, o templo. Por isso, o frontal do altar apresenta as cinco letras do nome de Maria, cada uma inscrita dentro de uma estrela de sete pontas, e por cima a coroa imperial. Trata-se de heráldica falante, designando Maria Regina Mundi, espécie da Cabala Gemátrica que igualmente se revela no famoso relógio de António Carvalho Monteiro, também ele cultor mariano.

Além do título auferido por Maria como “Rainha do Mundo”, o seu nome inscrito dentro das estrelas igualmente designa-a Stella Maris, evocação presente na ladainha assinalando-a com o predicado celeste da Estrela d´Alva e do Crepúsculo, Vénus, levantando-se e pondo-se sobre o Mar Incógnito (Mare Incognitus) adiante deste ermo marcando o Finis Terrae, lugar dos saberes ocultados que os marinheiros do vasto oceano de Espírito desocultaram fazendo-o Mare Nostrum, epíteto hermético dado ao “Mercúrio dos Sábios”. Nisto, na mais pura e franca heterodoxia, o tema sebástico igualmente faz-se presente, sem dúvida encoberto mas patente neste frontal de altar. A profecia bíblica em Números (24:17), principal influência da simbólica messiânica, levou a exegese a interpretar a estrela como uma imagem ou o nome do Messias aguardado[24], tema transposto para a fórmula mental lusitana do V Império e do Imperador Universal, donde a coroa imperial presente no frontispício da mesa dos sacrifícios. Revelando-se a estrela de sete pontas, simboliza a Criação absoluta, como também a totalidade do Tempo e a totalidade do Espaço repartidos em ciclos, com estes abrindo uma janela de oportunidade para que Maria novamente dê à luz ou revele o Divino Espírito Santo, ou seja, a nova Parúsia na qual o Messias se revelará à Humanidade, contando a hora da Sua revelação a partir do momento que é anunciado.

Em volta do morro havia até há pouco tempo várias casas arruinadas: elas foram construídas nos séculos XVIII-XIX pelos romeiros aqui vindos prestar culto à milagrosa Virgem da Peninha. Mas por volta de 1918, quando o Dr. Carvalho Monteiro comprou este espaço com a possível intenção de também ele fazer aqui as suas reclusões, mandou demolir um grupo de três casas e no seu lugar ordenou a construção de um edifício apalaçado sob projecto de Júlio da Fonseca, vendo-se de fora, do lado sul, o seu vasto terraço ou loggia de paredes ameadas dando-lhe o aspecto de castelo.

Vindo a morte recolher Carvalho Monteiro em 1920, o seu Palácio da Peninha não ficou concluído, mas tendo ele se acautelado antecipadamente, certamente por causa dos interesses cobiçosos que já então haviam para este lugar, deixou expressa a sua vontade que dentre os principais interessados em adquiri-lo se preferisse o seu advogado, dr. José Maria Ferreira Rangel de Sampaio. Assim aconteceu, e de imediato o novo proprietário procurou o artista sintrense Júlio da Fonseca para fornecer-lhe novo projecto a fim de poder acabar a obra, o que também aconteceu, mas esse novo projecto era praticamente idêntico ao anterior que esquissara para o dr. Carvalho Monteiro. Por disposição testamentária do dr. Rangel, todo o conjunto da Peninha passou para a posse da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e assim se manteve até 1991, quando foi comprado pelo Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza por 90 mil contos.

Assentando no formato cúbico ameado encostado ao templo, penetrando-o mesmo, o palácio sugere tanto a ideia da Caaba árabe quanto a da Rabita moçárabe, além de também parecer querer unir a Autoridade Espiritual (representada na capela) com o Poder Temporal (assinalado no palácio). Tendo sofrido obras há poucos anos que alteraram severamente a sua feição interior, o traçado deste imóvel era deveras intrigante, com os seus dois acessos à capela, um pela porta dianteira lateral à daquela, e outro interior passando para meio da coxia próximo do púlpito.

Entrando pela porta principal do palácio, alonga-se uma sala relativamente estreita (“estreito é o Caminho…”) seccionada em três arcarias (ou “Idades”…), havendo logo à entrada de quem entra, em jeito de “figuras de convite”, dois painéis de azulejos nos lados, retratando um Anjo Turibulário e um Anjo Turiferário (motivos por demais estranhos para uma habitação que se pretendia civil, deixando a suspeita de originalmente querer-se destiná-la a fins herméticos só do conhecimento de Carvalho Monteiro). A decoração das paredes prossegue com outros belos exemplares de azulejos azuis e brancos, possivelmente do século XVIII resgatados de outro lugar e trazidos para aqui, com motivos florais, de vida campestre e de vida religiosa entremeada com simbologia hermética. Nisto observava-se, por exemplo, um pavão entre rosas[25], ou então uma greta, espécie de vulva vaginal ou virginal igualíssima à da entrada na caverna nas traseiras do edifício (hoje cimentada), que leva à mina d´água subterrânea que alimenta São Saturnino da Serra de Sintra. Na parede lateral direita junto ao terraço abre-se uma lareira onde estava uma salamandra envelhecida muito deteriorada, possivelmente coeva de Carvalho Monteiro, que pelo seu formato de vaso fazia lembrar o vaso hermético utilizado nas operações de Alquimia com o respectivo forno ou athanor. Não afirmo que o fosse, mas que o sugeria lá isso sugeria…

A salamandra sugestiva do "vaso hermético" no Palácio da Peninha

A salamandra sugestiva do “vaso hermético” no Palácio da Peninha

Todo o edifício estava disposto em espiral descendente, como tendente a mergulhar nas entranhas da Mãe-Terra. Além de uma escadinha pela qual se sobe ao terraço no fundo da sala-corredor, num outro espaço destinado a sala de estar há uma outra escadaria, a meio da sala de entrada, que levava a um aposento quadrangular subterrâneo, aberto ao lado de uma cisterna cuja fundura perdia-se nos abismos da Terra. Uma porta de grade de ferro, caída e enferrujada, por sua vez dava acesso a outro aposento mais pequeno, que tinha num dos cantos uma espécie de altar em triângulo montado pela própria rocha viva.

A citada sala-corredor que tem janelas mas não tinha vidros e onde estranhamente não entrava o vento – sabendo-se quanto furiosamente ventosa é a Peninha – foi concebida como prolongamento lateral da capela, espécie de “costela” desta, evocativa de Adão parindo Eva, ou por outra, da parte devocional assistindo à laboratorial, donde o ora et labora origem do termo laboratorium, laboratório. Isto reconduz à capela, ou antes, à sacristia onde está – ou esteve, quiçá – uma belíssima fonte barroca feita de mármore da região, possivelmente obra do século XVIII, de onde jorrava água destinada a ser benta. A sua ornamentação é muito sugestiva: mostra no topo uma cruz latina branca (adoptada pelos franciscanos como Cruz Patrística[26] e da Igreja  Primacial, como seja a da Regra do Ocidente centrado em Roma) com uma rosa vermelha em cada extremo da trave horizontal, e uma terceira rosa no centro. Mais abaixo, nova cruz branca em espigão floral, tendo cada pétala uma rosa vermelha, e ao centro a boca d´água. Toda a peça tem por fundo a cor azul e vem a assinalar a “Água da Fonte de Maria”, Fons Acqua Maria ou Fons Maris, vindo as rosas e as cruzes, donde Rosa+Cruz, a ser sinaléticas da presença próxima da Pedra Filosofal – também chamada “Cabeça de Bode” ou “de Caprino”, indicativo do Planetário do Ciclo ou o Cumara – ou da Iluminação Espiritual seja a que nível for, porque nesta heterodoxia o confessional confunde-se com o racional, ou por outra, a catequese dos simples com a teologia dos eruditos. Por isto, Maria é Mãe de todos os crentes, e Saturnino o Oráculo das realizações próximas.

Fonte na sacristia da Capela de Nossa Senhora da Peninha de Sintra

Fonte na sacristia da Capela de Nossa Senhora da Peninha de Sintra

Realmente, a Peninha e São Saturnino marcam o fim da marcha iniciática sintrã, onde os corpos encontram o repouso final e as almas se evolam ao seio da Eternidade. Por certo terá sido o que aqui procurou, com tudo indicando que achou, António Augusto Carvalho Monteiro (ele que queria comprar toda a serra, como disseram os seus netos) e os anteriores ermitões com fama de santões deste ermo, onde tem lugar a morte profana, corporal, mas também onde tem lugar a ressurreição iniciática, espiritual. Este facto transcendente é, para o povo simples morador arredor daqui, a “maldição” da Peninha… mas bênção para quem sabe e acha.

NOTAS

[1] Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, volume 29, página 226. Esta enciclopédia compõe-se 40 volumes publicados entre 1936 e 1960 em Lisboa e no Rio de Janeiro, pela Editorial Enciclopédia Lda.

[2] Visconde de Juromenha, Cintra Pinturesca. Lisboa, 1838.

[3] A. de Silva Pereira, Cintra, Collares e seus arredores. Lisboa, 1888.

[4] José Alfredo da Costa Azevedo, Velharias de Sintra, volume I. Publicação da Câmara Municipal de Sintra, 1980.

[5] Virgílio Correia, Azulejos datados. Lisboa, 1922. Do mesmo autor, Azulejos. Livraria Gonçalves, Coimbra, 1956.

[6] Carlos de Azevedo, Julieta Ferrão, Adriano de Gusmão, Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, volume II, página 23. Lisboa, 1963.

[7] Estando de certa forma relacionada com a lenda mitológica de Cronos devorando os filhos, não deixa de ser curioso existir lateral à capela de S. Saturnino um cemitério onde eram enterrados os nados-mortos, estando gravada numa fraga, próxima da cisterna romano-árabe em meia-lua, uma cruz franciscana, possivelmente feita pelos monges do Convento dos Capuchos próximo.

[8] Há uma curiosa fotografia dos finais do século XIX onde se vê a família Carvalho Monteiro pousando para o retrato junto às portas e escadaria das Termas de Vidago ou Pedras Salgadas, onde aparece o tio e padrasto de Perpétua Augusta Pereira de Melo, ou seja, Gaspar José Viana, um homem de fato branco, de longas barbas e cabelos brancos, na pose singular de segurar uma enorme foice numa mão e uma ampulheta na outra, como alusão óbvia a Cronos-Saturno. Esta fotografia esteve em exposição na Quinta da Regaleira durante algum tempo, e talvez ainda lá esteja junto às escadarias para o primeiro andar do palácio, à saída da primitiva sala do bilhar.

[9] Leonor Figueiredo, Monteiro Milhões, o nosso “Luís da Baviera” – Quem era o homem que queria fazer de Sintra terra das mil e uma noites. Jornal “Correio da Manhã”, 30.1.1985.

[10] Regina Anacleto, Arquitectura Neomedieval Portuguesa, 1880-1924, volume I, página 327, nota 3. Fundação Calouste Gulbenkian / Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, Coimbra, 1997.

[11] Fernando Correia de Oliveira, História do Tempo em Portugal. Elementos para uma História do Tempo, da Relojoaria e das Mentalidades. Diamantouro, Lisboa, Novembro de 2003.

[12] Quinta da Regaleira – Luigi Manini (Imaginário & Método – Arquitectura & Cenografia). Edição da Fundação Cultursintra, 2006.

[13] Paulo Pereira, Lugares Mágicos de Portugal – Cabos do Mundo e Finisterras. Edição Círculo de Leitores, Lisboa, Janeiro de 2005.

[14] André de Resende, As Antiguidades da Lusitânia, Évora, 1593. Reedição da Fundação Calouste Gulbenkian, com introdução, tradução e comentário de R. M. Rosado Fernandes, Lisboa, 1996.

[15] José Leite de Vasconcelos, Religiões da Lusitânia. Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1989.

[16] Omer Englebert, Vida dos Santos, volume II, página 621. União Gráfica, Lisboa, 1953.

[17] Raul Proença, Guia de Portugal, volume I. Lisboa, 1924.

[18] O Trabalho e as Tradições Religiosas no Distrito de Lisboa. Exposição de Etnografia. Governo Civil de Lisboa, 1991.

[19] Virgílio Correia, Azulejos datados. Lisboa, 1922.

[20] Frei Agostinho de Santa Maria, Santuário Mariano, t. I, liv. I, tit. 16, pp. 53-55. Lisboa, 1707.

[21] Manuel J. Gandra, Os Círios ou aspectos do culto da Grande Deusa na Estremadura. Texto inserto em Comunicações – Jornadas sobre Cultura Saloia, 2 e 3 de Dezembro de 1994, nas quais, passo a informação, igualmente intervi com a alocução Mitos e tradições saloias. Edição Câmara Municipal de Loures – Departamento Sócio-Cultural, Divisão do Património Cultural.

[22] “Cães danados”, digo eu, também podendo ser sinónimos dos que professam heresias para o clero vigente.

[23] Para mim, essas denúncias justificam-se exclusivamente por “rivalidades bairristas” entre os do Milharado e da Azóia.

[24] “Eu o vejo, mas não no presente; eu o contemplo, mas não de perto; de Jacó procederá uma estrela, de Israel se levantará um ceptro que ferirá os termos de Moabe, e destruirá todos os filhos de orgulho.” – Quarta profecia de Balaão, Números, 24:17.

[25] O pavão é um dos símbolos mais caros da Alquimia, por expressar o “arco-íris” ou as sete cores da Grande Obra antes do processo chamado “Composto”, já se sabendo que aos tratados de Alquimia, na Idade Média e nos inícios da Renascença, se chamavam “Roseiras dos Filósofos” ou “Roseiral da Filosofia”.

[26] Há diferenças entre Patrística e Patrologia. A Patrística ocupa-se do pensamento teológico dos Padres da Igreja, e a Patrologia ocupa-se da vida e dos escritos dos mesmos. In Patrologia-Patrística – Diccionario Patristico y de la Antigüedad cristiana, Verdad y Imagen, Salamanca, 1998.