NOTA INTRODUTÓRIA
Este ensaio, publicado em 1820, foi uma tentativa de provar que a Maçonaria Moderna derivou das antigas ideias filosóficas e religiosas da Grécia Antiga. Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça (13.8.1774 – Londres, 11.9.1823), foi um cidadão do Reino de Portugal nascido no Brasil, mais propriamente na Colónia de Sacramento, actualmente território do Uruguai; jornalista, escritor, diplomata, maçom e viajante do mundo, foi preso por ser maçom pela Inquisição Portuguesa em 1802 e fugiu em 1805. Estabeleceu-se em Londres e escreveu, dentre vários, um livro em dois volumes sobre as suas experiências, Narrativa da Perseguição, em 1811. Ele deu início ao processo de formação da primeira Grande Obediência Maçónica Portuguesa e foi dos mais importantes maçons na história da Maçonaria Inglesa.
Octávio Pimenta Sousa
OS ARTÍFICES DIONISIANOS
(1820)
POR
HIPÓLITO JOSÉ DA COSTA
Os antigos mistérios e as associações em que as suas doutrinas eram ensinadas dificilmente foram consideradas nos tempos modernos, sobretudo com o objetivo de condená-los e ridicularizá-los.
Os sistemas da mitologia antiga foram tratados como absurdos monstruosos, aviltando a razão humana, levando à idolatria e favorecendo a depravação de conduta.
Porém, eles merecem atenção, se forem contemplados os motivos dos seus criadores, ao invés da devassidão e ignorância dos seus corruptores. Quando os homens foram privados da luz da revelação, aqueles que formaram sistemas de moralidade para guiar os seus semelhantes, de acordo com os ditames da razão aperfeiçoada, mereciam os agradecimentos da humanidade, por mais deficientes que esses sistemas fossem, ou o tempo os tivesse alterado; respeito, não escárnio, deve acompanhar os esforços daqueles homens bons; embora os seus trabalhos se pudessem ter mostrado inúteis.
Sob esse ponto de vista, deve ser considerada uma associação, traçada até mais remota antiguidade, e preservada por incontáveis vicissitudes, mas mantendo as marcas originais do seu fundamento, escopo e princípios.
Parece que, em um período muito precoce, alguns homens contemplativos desejavam deduzir da observação da natureza regras morais para a conduta da humanidade. Astronomia foi a ciência selecionada para este propósito; a arquitetura foi posteriormente chamada para auxiliar este sistema; e os seus seguidores formaram uma sociedade ou seita, que será o objeto desta investigação.
A continuidade desse sistema será encontrada às vezes interrompida, um efeito natural de teorias conflituantes, da alteração dos costumes e da mudança das circunstâncias, mas ele fará as suas aparições em períodos diferentes, e a mesma verdade será vista constantemente.
A importância de calcular com precisão as estações do ano, para regular as atividades agrícolas, a navegação e outras ocupações necessárias na vida, deve ter tornado a ciência da astronomia um objeto de grande cuidado, no governo de todas as nações civilizadas; e a previsão de eclipses, e outros fenómenos, deve ter obtido para os eruditos nesta ciência, tal respeito e veneração da multidão ignorante, a ponto de torná-la extremamente útil para os legisladores, na formulação de leis para regular a conduta moral do seu povo.
As leis da natureza e as regras morais deduzidas delas foram explicadas em histórias alegóricas, que chamamos de fábulas, e essas histórias alegóricas foram gravadas na memória por cerimónias simbólicas denominadas mistérios, e que, embora posteriormente mal compreendidas e mal aplicadas, contêm sistemas com a mais profunda, a mais sublime e a mais útil teoria filosófica.
Entre esses mistérios encontram-se os notáveis e peculiares de Elêusis, Dionísio, Baco, Osíris, Adónis, Thamuz, Apolo, etc., que foram nomes adotados em várias línguas, e em vários países, para designar a Divindade, que era o objeto dessas cerimónias, e é geralmente admitido que o significado do Sol representava essas várias denominações (1).
Comecemos com um fato, não contestado, que nessas cerimónias uma morte e ressurreição era representada, e que o intervalo entre a morte e a ressurreição era por vezes de três dias, outras vezes de quinze dias.
Agora, pelo testemunho simultâneo de todos os autores antigos (2), as divindades chamadas Osíris, Adónis, Baco etc., eram nomes dados a ou a tipos que representam o Sol, considerados em diferentes situações e contemplados sob vários pontos de vista (3).
Portanto, essas representações simbólicas, que descreviam o Sol como morto, ou seja, escondido por três dias sob o horizonte, devem ter-se originado em um clima onde o Sol, quando no hemisfério inferior, está em uma certa estação do ano, escondido por três dias da vista dos habitantes.
Tal clima se encontra, de fato, ao norte até a latitude 66º, e é razoável concluir que, de um povo que vivia perto do círculo polar, deve se ter originado o culto do Sol, com tais cerimónias; e alguns supuseram que esse povo fosse o da Atlântida (4).
A adoração do Sol é geralmente atribuída aos ritos mitraicos e àqueles criados pelos magos da Pérsia. Mas se o Sol pudesse ser feito objeto de veneração, se a preservação do fogo pudesse ser considerada merecedora de cerimónias religiosas, é mais natural que o fosse com um povo que vivesse em um clima gelado, para quem o Sol era o maior conforto, cuja ausência sob o horizonte por três dias era um acontecimento deplorável, e cujo aparecimento acima do horizonte uma verdadeira fonte de alegria.
Não é assim na Pérsia, onde o Sol nunca fica escondido por três dias seguidos sob o horizonte, e onde os seus raios penetrantes estão tão longe de serem uma fonte de prazer, ao invés, estar protegido deles, desfrutar de sombras frescas, é um daqueles confortos que para obter, toda a engenhosidade era exercida. A adoração do Sol, e a manutenção do fogo sagrado, deve ter sido uma introdução estrangeira na Pérsia.
A conjectura é reforçada por alguns factos importantes, que, referindo-se a alusões astronómicas, colocam a cena fora da Pérsia, embora a teoria aí se encontre.
No Boun Dehesch (traduzido por Anquetil Du Perron, página 400), encontramos que “o dia mais longo do Verão é igual aos dois mais curtos do Inverno; e que a noite mais longa no Inverno é igual às duas noites mais curtas no Verão”.
Essa circunstância só pode ocorrer na latitude 49º 20´, onde o dia mais longo do ano é de dezasseis horas e dez minutos, e o mais curto de oito horas e cinco minutos.
Essa latitude está muito além dos limites da Pérsia, onde a História coloca Zoroastro, a quem as sagradas doutrinas do livro persa Boun Dehesch são atribuídas. Essa proporção, então, de dias e noites, como regra geral, só poderia ser verdadeira na Cítia, seja nas fontes dos rios Irtisch, Oby, do Jenisci ou do Slinger.
Sabemos muito pouco da história antiga desses cítios ou massagetes, mas sabemos que eles disputavam a sua antiguidade com os egípcios (5), e que o princípio acima, embora atribuído ao Zoroastro persa, só se aplica ao país desses cítios.
Mas deixemos a origem dos mistérios do Sol começar onde pode, eles eram celebrados na Grécia, em vários lugares, entre outros, em Appollonia, uma cidade dedicada a Apolo, e situada na latitude 41º 22´ (6). Nesta latitude o dia mais longo tem quinze horas, diferindo três horas da duração do dia em que o Sol está no equinócio: o inverso é o caso com as noites.
Esta circunstância será responsável pela preservação de três dias nestes mistérios, mesmo quando celebrados na Grécia, e também pelos quinze dias, ou representação do número de quinze em alguns dos ritos de Elêusis.
Os números misteriosos foram empregados para designar tais e semelhantes operações da Natureza, pois é dito que os símbolos e segredos pitagóricos foram emprestados dos ritos órficos ou de Elêusis; e que consistiam no estudo das ciências e artes úteis, unidas à teologia e à ética, e eram comunicadas em cifras e símbolos (7). Sugestões semelhantes, quanto à importância mística dos números, são encontradas em muitos outros autores (8).
As letras, representando números, formavam nomes cabalísticos, expressivos das qualidades essenciais daquilo que pretendiam representar; e mesmo os gregos, quando traduziram nomes estrangeiros, cujo significado cabalístico eles conheciam, eles os traduziram por letras gregas, de modo a preservar a mesma interpretação em números, que encontramos exemplificados no nome Nilo (9).
Mas no número três ao qual tantas alusões místicas e morais foram feitas, havia uma referência aos três círculos celestes, dois dos quais o Sol toca, passando sobre o terceiro no seu curso anual (10).
Os mistérios de Elêusis, os mesmos de Dionísio ou Baco, eram considerados por alguns como tendo sido introduzidos na Grécia por Orfeu (11): eles podem ter vindo do Egipto, mas o Egipto pode tê-los recebido em um período anterior ao dos persas, e estes novamente dos citas; mas, considerando-os apenas como os encontramos na Grécia, daremos aqui um esboço das suas cerimónias.
O aspirante a esses mistérios não era admitido como candidato até que tivesse atingido uma certa idade, e determinadas pessoas eram designadas para examiná-lo e prepará-lo para os ritos de iniciação (12). Aqueles cujas condutas foram consideradas irregulares, ou que haviam sido culpados de crimes atrozes, eram rejeitados; aqueles considerados dignos de admissão eram então instruídos por símbolos significativos nos princípios da sociedade (13).
Na cerimónia de admissão a esses mistérios, o candidato era primeiro conduzido a uma sala escura, chamada de capela mística (14). Lá, algumas perguntas eram feitas. Quando introduzido, o livro sagrado era apresentado, de entre dois pilares ou pedras (15): ele era recompensado pela visão (16): uma multidão de luzes extraordinárias eram-lhe apresentadas, algumas das quais dignas de observação particular.
Ele revestia-se com uma pele de ovelha; a pessoa oposta era chamada de revelador de coisas sagradas (17) e ela também estava vestida com uma pele de ovelha ou com um véu de cor púrpura, e no seu ombro direito uma pele de mula manchada ou matizada, representando os raios do sol e as estrelas (18). Numa certa distância ficava o portador da tocha (19), que representava o Sol; e ao lado do altar estava uma terceira pessoa, que representava a Lua (20).
Assim, percebemos que sobre essas assembleias presidiam três pessoas, em diferentes funções, e podemos observar, que no governo das caravanas nos países orientais, três pessoas também as dirigem, embora haja cinco oficiais principais, além dos três matemáticos; essas três pessoas são: o comandante-em-chefe, que governa tudo; o capitão da marcha, que detém o poder governante, enquanto a caravana se deslocar; e o capitão do resto, ou refresco, que assume o governo, assim que a caravana pára para se refrescar (21).
Alguns autores observaram a mesma divisão de poder na marcha dos israelitas pelo deserto, e consideram Moisés como o comandante-geral, Joshua o capitão da marcha, e talvez Aaron como o capitão do resto (22).
A sociedade de que falamos era governada por três pessoas, com atribuições diferentes a elas confiadas, por um costume da mais remota antiguidade.
Os mistérios, porém, não eram comunicados de uma só vez, mas por patamares (23), em três partes diferentes. A cerimónia da iniciação, propriamente falando, era dividida em cinco secções, como encontramos em uma passagem de Theo, que compara a filosofia àqueles ritos místicos (24).
Essas cerimónias, até aqui, parecem conter os mistérios menores, ou o primeiro e o segundo estágio do candidato no seu progresso ao longo das suas iniciações. Havia, no entanto, uma terceira fase, quando o próprio candidato era levado simbolicamente a se aproximar da morte e então retornar à vida (25).
Nesta terceira etapa da cerimónia, o candidato era estendido num divã (26), para representar a sua morte.
Quanto às festividades em que se celebravam esses mistérios, verificamos que no dia 17 do mês de Athyr (27) as imagens de Osíris estavam encerradas num caixão ou arca: no dia 18 era a busca (28); e no dia 19 era o achado (29).
No assassínio em fábulas ou histórias simbólicas, relacionadas a esses mistérios, encontramos Adónis morto e ressuscitado e as mulheres sírias chorando por Thamuz, etc.
Vamos agora examinar o que significa esta morte e ressurreição simbólicas, ou por certos personagens que dizem ter visitado o Hades e retornado novamente (30).
Parece que esse tipo, em todas as suas várias formas e denominações, indicava que o Sol passava para o hemisfério inferior e voltava para o superior (31).
Os egípcios, que observavam esta adoração ao Sol, sob o nome de Osíris, representavam o Sol na figura de um homem velho, pouco antes do solstício de Inverno, e o tipificavam por Serapis, tendo a constelação de Leão em frente a ele, a Serpente ou Hydra sob ele, o Lobo no leste de Leão e o Cão no oeste. Este é o estado do Hemisfério Sul à meia-noite nesse período do ano.
Os mesmos egípcios representaram o Sol pelo menino Harpócrates, no equinócio vernal; e então foi a festa da morte, sepultamento e ressurreição de Osíris; ou seja, o Sol no hemisfério inferior; apenas subindo e ascendendo no hemisfério superior.
Nesta situação superior, o sol era chamado de Horus, Mithras, etc., e saudado como Sol Invictus. Iremos agora apontar alguns outros símbolos para expressar os mesmos fenómenos, embora diferentes daqueles tipos de que estamos tratando no momento.
Nos monumentos astronómicos mitraicos, onde a figura de um homem é representada conquistando e matando um touro, há duas figuras ao lado com tochas: um apontando para baixo, o outro para cima.
Esses monumentos, onde foram retratados os mistérios em questão, o homem matando e conquistando o touro, representa o Sol, passando para o hemisfério superior, pelo signo de Touro, que naquele remoto período (quatro mil e seiscentos anos antes de nossa era) era o signo equinocial. Os dois portadores da tocha, um apontando para baixo e o outro para cima, representam o Sol descendo para o hemisfério inferior e subindo novamente (32).
No tempo remoto antes aludido, o Sol entrara no signo de Touro, no equinócio de Verão, e o ano seria iniciado neste período para os astrónomos egípcios (33). Posteriormente, em consequência da precessão dos equinócios, ocorria o equinócio de Verão no signo de Áries; portanto, parte dos egípcios transferiram a sua adoração do touro ou bezerro para o carneiro (34); enquanto outros continuaram a adorar o touro (35).
Podemos explicar isso na linguagem dos nossos astrónomos modernos, dizendo que alguns dos eruditos egípcios continuavam a calcular pelo Zodíaco móvel, enquanto outros calculavam o ano pelo Zodíaco fixo; e esta circunstância produziu uma divisão de seitas no povo, sendo uma divisão de opinião, entre os eruditos.
Da mesma forma, pela mesma precessão dos equinócios, o Sol passou de Áries para Peixes no equinócio primaveril, cerca de trezentos e trinta e oito anos antes de nossa era; no entanto, o início do ano continuou a ser contado a partir de Áries. Se a astronomia egípcia e a religião egípcia existissem então com o mesmo vigor, ambas teriam talvez sofrido uma alteração semelhante; mas os sistemas egípcios foram naquele período quase aniquilados.
Podemos observar, porém, que os cristãos, no início da nossa era, marcavam os seus túmulos com peixes, como um emblema do cristianismo, para distinguir os seus sepulcros daqueles dos pagãos, por um símbolo desconhecido por eles.
Retornando desta curta digressão ao nosso propósito imediato, temos que observar que, se aquelas cerimónias e símbolos pretendiam representar o Sol e as leis dos seus movimentos, esses mesmos fenómenos da Natureza foram estudados com uma visão moral, como sendo eles próprios tipos ou argumentos para uma filosofia mais sublime ou metafísica; e as regras morais daí deduzidas ficaram gravadas na memória por aquelas imagens e representações vivas.
O surgimento do Sol no hemisfério inferior e o seu retorno foram contemplados como uma prova ou como um símbolo da imortalidade da alma, um dos mais importantes, bem como dos mais sublimes princípios da Filosofia Platónica (36).
As doutrinas da espiritualidade e da imortalidade da alma, explicadas por esses símbolos, eram muito pouco compreendidas, mesmo pelos iniciados; assim, descobrimos que alguns deles (37) tomaram esses tipos para significar apenas o corpo presente, pelas suas descrições das moradas infernais; considerando que o verdadeiro significado desses mistérios inculcou a doutrina de um futuro estado da alma com futuras recompensas e punições e que tais eram as doutrinas desses filósofos, é mostrado por muitas e indiscutíveis autoridades (38).
A união da alma com o corpo era considerada como a morte da alma, e a separação como a ressurreição da alma (39); e tais tipos de cerimónias tinham a intenção de imprimir a doutrina da imersão da alma na matéria, como está bem atestado (40).
Pelo emblema do Sol descendo para o hemisfério inferior também estava representada a alma do homem, que por ignorância e inculto, estava num estado comparado ao do sono, ou quase morto; mistério esse que pretendia estimular o homem ao aprendizado das ciências (41).
Os egípcios também consideravam a matéria como uma espécie de lama ou lodo, na qual a alma estava imersa (42); e num autor antigo encontramos uma recapitulação dessas teorias no mesmo sentido (43).
Os persas, que seguiram os princípios de Zerdoust, chamados pelos gregos de Zoroastro, receberam as mesmas doutrinas místicas da contemplação do Sol, feita também a mesma aplicação metafísica à alma, da passagem do Sol pelos signos do Zodíaco (44).
Além disso, o Sol era considerado o símbolo do princípio ativo, enquanto a Lua e a Terra eram símbolos do passivo (45).
O próprio Sol, considerando a sua influência benéfica no mundo físico, foi escolhido como o símbolo da Divindade, embora posteriormente tomado pelo vulgo como uma Divindade (46).
Deve ser aqui particularmente observado que os diferentes nomes que os egípcios (dos quais os gregos os aprenderam) deram a Deus, em vez de significar vários deuses, eram apenas expressões dos diferentes efeitos produtivos de um único Deus (47). Não muito diferente do que os judeus derivam do Grande Nome Tetragramaton (48).
As fábulas, alegorias e tipos dos antigos, sendo de três classes (49), às vezes importam vários significados; portanto, algumas das cerimónias às quais está ligada a importância sublime também são aplicadas para tipificar operações menos dignas, no sistema natural. Assim, por exemplo, a fábula de Proserpina, que alude à imersão da alma no corpo, também foi empregada para simbolizar a operação da semente no solo (50).
Mas a doutrina geral de Platão da descida da alma às trevas, do corpo, dos perigos das paixões, dos tormentos dos vícios, parecem ser perfeitamente descritas por Virgílio (51), embora este poeta fosse da seita epicureu, a mais elegante do seu tempo.
Os mistérios menores representavam, como vimos, a descida da alma ao corpo e as dores que nele sofreu. Os mistérios maiores tinham a intenção de tipificar as visões esplêndidas, ou o estado feliz da alma, tanto aqui como no futuro, quando purificado das contaminações da natureza material. Essas doutrinas também são inculcadas pelas fábulas das Ilhas Afortunadas, dos Campos Elíseos, etc. As diferentes purificações nesses ritos eram símbolos da gradação das virtudes, necessária à reascensão da alma. A pureza interior, da qual as purificações externas eram símbolos, só pode ser obtida pelo exercício dessas virtudes (52).
À alusão a essas virtudes deve ser entendido o que diz Sócrates (53), que cabe aos filósofos estudar para morrer e ser eles próprios a morte; e como ao mesmo tempo ele reprova o suicídio, tal morte não pode significar outra senão a morte filosófica, ou o exercício do que ele chama de virtudes catárticas.
Se esse era o significado e a importância dos ritos, símbolos e cerimónias de Elêusis e Dionisianas, deve-se permitir que uma sociedade ou seita, que foi empregada na contemplação de tais verdades sublimes, não possa ser considerada insignificante ou devassa.
Os próprios padres cristãos, que tão fortemente atacaram a religião pagã, confessaram a utilidade desses símbolos (54); e que as circunstâncias anteriores à iniciação nesses mistérios tendiam a excluir noções ímpias e preparar a mente para ouvir a verdade (55).
Esses mistérios foram ocultados do vulgo; porque seria uma prostituição ridícula de tais teorias sublimes divulgá-las à multidão incapaz de compreendê-las, quando mesmo muitos dos iniciados, por falta de estudo e aplicação, não compreendiam todo o significado dos símbolos.
À multidão foi contada apenas de forma abstracta a doutrina de um estado futuro de recompensas e punições, e se familiarizou com o calendário, o resultado de observações astronómicas, cujo conhecimento estava relacionado com as suas festividades e actividades agrícolas. Eles também aprenderam outras partes práticas da ciência calculadas para um uso geral. O segredo desses mistérios foi a primeira causa de censura contra eles; em seguida veio, sem dúvida, a depravação dos seus seguidores e a perversão dessas assembleias em reuniões de convívio primeiro, e depois nas associações mais devassas.
O segredo também era imposto pelas leis, era morte revelar qualquer coisa pertencente aos mistérios de Elêusis; divulgar de forma imprudente qualquer coisa sobre eles, era considerado até indecoroso; disso, encontramos um muito conspícuo exemplo em Plutarco (56).
Por respeito a este costume, os estudiosos eram, em geral, apenas instruídos nas doutrinas exotéricas (57). As doutrinas acromáticas eram ensinadas apenas a uns poucos selecionados, por comunicação privada e viva voce.
Porém, quando a ignorância dos próprios mestres desses mistérios fazia com que as suas formas apenas fossem atendidas, a essência foi perdida, a sombra apenas permaneceu; e, então, mesmo essas formas e cerimónias eram frequentadas por pessoas que desconheciam o seu significado e eram perversas o suficiente para direcioná-las para os seus interesses particulares, como uma máquina empregada para enganar o povo e para ocasiões de devassidão e depravação. Vamos dar um exemplo disso.
Os mistérios de Elêusis, ou do Sol, foram unidos ou análogos aos de Dionísio ou Baco; porque, de acordo com a teologia órfica, o intelecto de cada planeta era denominado Baco: então, quando o Sol era considerado a inteligência espiritual, que movia ou fazia este planeta se mover, no seu círculo anual, ele era denominado Trietericus Baco (58).
Assim, as cerimónias de Baco, eram acompanhadas de júbilo, como o triunfo do espírito sobre a matéria; mas esta circunstância, tão intimamente conectada com as noções sublimes dos mistérios de Elêusis, foi completamente transformada em um mero banquete e procissões de pessoas bêbadas, que nas cerimónias nada sabiam mais do que carregar galhos de árvores nas suas mãos (59).
Mais ainda: um padre depravado introduziu aqueles mistérios bacanais em Roma, com os piores propósitos, e ao alarmar o Senado, a punição mais severa foi-lhe infligida e aos seus seguidores (60).
Foi em consequência desses abusos que Sócrates se recusou a ser iniciado (61), e o mesmo fez Diógenes, alegando que Patæcion, um ladrão notório, havia obtido a iniciação (62); Epaminondas também, e Agesilau nunca o aprovou (63).
Mas se aqueles que desejavam ser licenciosos ao se revestiram desses mistérios, isso não tem nada a ver com os princípios originais da instituição. Pois a pureza dos seus devotos era levada, de acordo com os mistérios primitivos, ao ponto mais delicado e escrupuloso (64).
Depois de autoridades tão respeitáveis, como já referimos, devemos rejeitar, como calúnias imprudentes, a afirmação de Tertuliano, que diz que as partes naturais de um homem foram encerradas na arca transportada nas procissões daqueles mistérios; Teodoreto e Arnóbio dizem que eram as partes de uma mulher; tais afirmadores não tinham meios de averiguar o que não era conhecido de ninguém, fora do recinto daqueles mistérios mais recônditos (65).
Deveríamos, antes, supor que na arca, carregada na procissão, e que se dizia encerrar o corpo de Osíris, esferas foram depositadas, representando o nosso Sistema Solar (66).
A respeito dessas acusações, encontradas em alguns dos escritores eclesiásticos, devemos também observar que muitos deles, guiados por um zelo equivocado pela religião cristã, desfiguraram em grau muito condenável os antigos monumentos históricos, tomando, por exemplo, a maneira pela qual a História do Egipto, escrita por Manethon, foi transmitida a nós por aqueles escritores eclesiásticos (67); outros de tais escritores, na verdade, nada sabiam dos mistérios egípcios (68).
A conclusão, portanto, é que os motivos dessas instituições eram bons e puros, como tendendo ao estudo da ciência e prática da moralidade, embora as mesmas instituições posteriormente degeneraram (69); e essa degeneração foi seguida pela ruína do Estado, conforme previsto pelo próprio Trimegistus, que nesta predição provou quão grande filósofo e político ele foi (70).
Tendo assim estabelecido qual era o significado e importância dos mistérios de Elêusis ou Dionisianos entre os antigos gregos, que nos transmitiram o conhecimento deles, e tendo mostrado que as cerimónias não se destinavam (só), na sua origem, ao culto do Sol, considerado uma divindade, passaremos a examinar como esses mistérios foram comunicados a outras nações pelos gregos.
Cerca de cinquenta anos antes da construção do Templo de Salomão em Jerusalém (71), uma colónia de gregos, principalmente jónios, reclamando dos limites territoriais do seu país com uma população crescente, emigrou; e tendo se estabelecido na Ásia Menor, deram a esse país o nome de Jónia (72).
Sem dúvida que as pessoas carregavam consigo as suas tradições, ciências e religião, e os mistérios de Elêusis (73) entre os demais. Consequentemente, descobrimos que uma das suas cidades, Biblos, era famosa pela adoração de Apolo, assim como Apolónia havia sido com os seus ancestrais (74).
Esses jónicos, participando do estado de civilização aprimorado em que a sua pátria mãe, a Grécia, então se encontrava, cultivavam as ciências e as artes úteis; e tornaram-se mais conspícuos na arquitectura e inventaram ou aprimoraram a ordem chamada pelo próprio nome de Jónica.
Eles formaram uma sociedade cujo propósito era se dedicar à construção de edifícios. A assembleia geral da sociedade foi realizada pela primeira vez em Theos; mas depois, em consequência de algumas comoções civis, passou para Lebedos (75).
Essa seita ou sociedade era agora chamada de Artífices Dionisianos, já que Baco era considerado o mentor da construção de teatros, e realizavam as festividades dionisianas (76). Posteriormente, eles se estenderam à Síria, Pérsia e Índia (77).
A partir desse período, a ciência da Astronomia, que deu origem aos símbolos dos ritos dionisianos, passou a se relacionar com tipos extraídos da arte de construir (78).
Essas sociedades jónicas dividiam-se em diferentes secções, ou assembleias menores (79). Algumas dessas associações pequenas ou dependentes, também tinham os seus nomes distintos (80).
E eles estenderam as suas visões morais, em conjunto com a arte de construir, para muitos propósitos úteis e para a prática de actos de benevolência (81).
Encontramos registado que essas sociedades, com a sua utilidade, foram muitos anos depois investigadas por Cambises, rei da Pérsia, que as aprovou e deu a elas grandes marcas de favores (82).
É essencial observar que essas sociedades tinham palavras significativas para distinguir os seus membros (83); e para o mesmo propósito usavam emblemas retirados da arte de construir (84).
Notemos agora a passagem dos Artífices Dionisíacos para a Judeia. Salomão obteve de Hirão, rei de Tiro, homens hábeis na arte de construir, quando o Templo foi erguido em Jerusalém (85). Entre os estrangeiros, que vieram nesta ocasião, encontramos homens de Gabel, chamados Giblim (86); quer dizer, os Jónios estabeleceram-se na Ásia Menor, pois Gabel, ou Biblos, era aquela cidade onde ficava o Templo de Apolo, onde eram celebrados os ritos de Elêusis ou mistérios dionisianos, como já referimos (87).
Poderíamos, além desse argumento, produzir alguma autoridade, pois Josefo diz que o estilo grego de arquitectura foi decididamente usado no Templo de Jerusalém (88).
Depois disso, não podemos nos surpreender ao descobrir que as cerimónias de Elêusis, ou Thamuz, deveriam ter sido introduzidas na Judeia, particularmente, porque o próprio Salomão, após ter entrado nas alusões científicas na construção do Templo, não estaria livre da acusação de grosseira superstição da idolatria (89).
Assim, encontramos alguns anos depois o profeta Ezequiel reclamando que as mulheres israelitas choravam por Thamuz em certo período do ano, nos próprios portões do Templo (90).
Mas é natural supor que os Artífices Dionisianos não teriam tentado introduzir esses ritos entre os judeus religiosos que, por mera questão de idolatria, era simbologia representativa do Sol. As ideias dos israelitas, no que concerne à unidade de Deus, ter-se-iam revoltado com isso, induzindo uma crença no politeísmo dos gentios.
O símbolo, portanto, nesses mistérios, deve ter sido explicado aos judeus, para significar apenas o Sol, no sentido verdadeiro e original desses mistérios; ou seja, como uma imagem da bondade de Deus para com o homem; e os movimentos aparentes daquela luminosidade, primeiro como o guia para fixar as estações; em seguida, como tipos ou lembranças da imortalidade da alma; pois este dogma não aparece nem está claro nos livros dos judeus antes desse período, nem universalmente admitido entre eles em data posterior (91).
Para evitar, portanto, qualquer alusão à idolatria nessas cerimónias e símbolos, outro personagem ou outro nome deve ter sido substituído por Adónis ou Osíris; e como uma morte e ressurreição simbólicas eram essenciais na alegoria do sistema, a história da morte de outro indivíduo deve ter sido substituída…
No entanto, no enquadramento desta nova história simbólica, tais circunstâncias deveriam ser relacionadas ou conectadas com a morte daquele personagem, de forma a tipificar e explicar a totalidade dos mistérios de Elêusis, ou a passagem do Sol do hemisfério superior para o inferior, e o seu retorno novamente (92).
Na formação desse novo sistema, ou melhor, nova alegoria ao mesmo sistema, embora o nome do herói tenha sido alterado, as circunstâncias devem ter sido preservadas, na medida que são consistentes com os novos nomes…
Toda a construção do Templo favoreceria uma alusão desse tipo. A pedra fundamental foi colocada no segundo dia do segundo mês (93), o que corresponde em média ao dia 20 de Abril, contando o ano sagrado no Zodíaco fixo.
Agora, se rectificarmos o globo para a latitude de Jerusalém (31º 30´) naquele período do ano, teremos o Sol em Áries, o Sol representado por um carneiro ou ovelha, ou um homem com pele de ovelha, como o hierofante foi representado nos mistérios de Elêusis (94).
Portanto, o próprio período do ano em que a pedra fundamental do Templo foi lançada, seria uma oportunidade de estabelecer sobre ela um novo sistema alegórico, para explicar o antigo mistério.
Se supormos que o globo representa o Mundo na posição acima descrita, o neófito estando a oeste de frente para o hierofante, que se encontra a leste, ao nascer do Sol, o candidato se encontrará entre os dois trópicos, representados pelas duas colunas (95) que eram colocadas na entrada oeste daquele Templo…
Para melhor compreender a facilidade com que o antigo sistema poderia ser adaptado às circunstâncias do Templo de Jerusalém, devemos considerar os seus simbolismos típicos, de acordo com as noções dos judeus e alguns dos padres cristãos.
Os templos construídos em homenagem aos vários deuses eram moldados de maneira a fazer alusão aos supostos atributos de tais deuses (96). Mas os platónicos supunham que o Universo era o verdadeiro Templo do verdadeiro e único Deus (97). O Templo, dedicado ao Deus verdadeiro, era para ser um reflexo do Universo.
Assim, descobrimos que o Templo de Jerusalém estava situado de leste a oeste, e com dimensões e tipos, todos adaptados para representar o sistema universal da Natureza (98).
Se o Templo de Salomão era um reflexo do Universo, para simbolizar que Jeová não era um Deus local, mas o Deus único, Senhor do Universo, a tradição também nos diz que o local de reunião dos Artífices Dionisianos era alegoricamente descrito, pelas suas dimensões, como um símbolo do Universo, em comprimento, largura, altura e profundidade.
Os antigos representavam o curso das estrelas pelo enrolamento de uma serpente; mas se esta fora colocada de forma a ter o rabo na sua boca, então representava a eternidade.
Agora, se considerarmos o início do ano civil entre os hebreus, o mês Tisri, que estava no equinócio de Inverno (99), o Sol, procedendo dali, se aproxima do sul e toca o trópico de Capricórnio; então retrocede em direção ao norte, cruzando o equinócio e tocando o trópico de Câncer; daí retrocedendo novamente para o sul, chega ao equinócio, terminando o ano.
Esses pontos, em um mapa estendido dos dois hemisférios, parecem separados; mas a imagem da serpente mordendo o rabo, representaria o final do ano, encontrando o início do seguinte (100).
O Sr. Hutchinson provou que os globos, no topo das duas colunas, no pórtico do Templo, eram orreries, ou representações mecânicas dos movimentos dos corpos celestes (101).
Penso que, depois dessas circunstâncias, que tantas facilidades proporcionaram à introdução do sistema dos Artífices Dionisianos na Judeia, a continuação do mesmo, em períodos posteriores, não pode ser de difícil explicação. Encontramos declarado, no Livro dos Macabeus (102), que existia naquela época na Judeia uma sociedade chamada de Assidianos ou Cassidianos, cuja função era cuidar das reparações do Templo.
Destes Cassidianos procedeu a seita ou sociedade dos Essénios, que, de acordo com Philo e Josefo, eram iguais aos Assidianos; e provavelmente, porque eles não admitiam mulheres nas suas assembleias, Plínio (103) diz que eles foram propagados sem esposas. Josefo (104) menciona o primeiro dos Essénios, na época de Aristóbulo e Antígono, filho de Hircanus, mas Suidas (105) e outros achavam que eram um ramo dos Recabitas, que subsistiram antes do cativeiro.
Josefo, provavelmente ignorante dos princípios secretos dos Essénios, também os acusa de adorar o Sol ou de fazer orações antes do nascer do Sol, como que para incitá-lo a se levantar. Mas essa mesma acusação, mais uma vez, os identifica com a seita dos Artífices Dionisianos, que, como parece pelas razões acima expostas, deveriam adorar o Sol. Josefo relata muitos outros detalhes, pelos quais, de maneira surpreendente, os traz ao que relatamos das outras sociedades que os precederam (106). Também aponta a conformidade das suas ideias com as dos platónicos e dionisianos, sobre a natureza da alma (107). Em suma, eles usaram símbolos, alegorias e parábolas à maneira dos antigos (108).
As práticas desses Essénios são representadas por Philo (109) como as mais pacíficas e cheias de virtudes sociais; e aqueles entre eles que eram mais entusiastas dos seus princípios, tinham os seus bens em comum, como os cristãos tinham nos primeiros tempos do Cristianismo (110).
Os Essénios não tiveram as suas cerimónias e mistérios registados na História, mas até agora sabemos que eles transmitiram à posteridade as doutrinas que recebiam dos seus ancestrais (111); tinham também placas distintivas (112), e os banquetes de festa (113), embora não pareça que seguissem exclusivamente a profissão de construtor ou arquitecto.
Fora da Judeia, encontramos também sociedades que se distinguem pelos mesmos personagens dos Essénios e com os mesmos princípios de Platão; pois os Pitagóricos também empregavam os símbolos da arte de construir (114). Os Artífices Dionisianos também existiam na Síria, na Pérsia e na Índia (115); e os mistérios de Elêusis foram preservados na Europa, mesmo em Roma, até ao século VIII da era cristã (116).
Depois dessa época, a Europa foi vitimada pelas nações mais bárbaras que, perseguindo todas as tradições científicas, espalharam uma era de escuridão geral, na qual todos os trabalhos dos antigos, em favor da Humanidade, estavam quase perdidos na ignorância geral dos seus tempos.
Essas mesmas sociedades e seitas também haviam sido muito abusadas em períodos anteriores, e as cerimónias convertidas, como vimos, para os piores propósitos: esta foi outra causa poderosa para o seu declínio e ruína. O Cristianismo era então na Europa o único vínculo de moralidade, pelo qual o poder poderia, em alguma medida, ser controlado ou restringido. Quando as ciências começaram a se reviver, prevaleceu um fanatismo geral e apareceu um espírito de perseguição, que fez com que as antigas doutrinas dos filósofos e os velhos sistemas de moralidade fossem considerados apenas descendentes do ateísmo e práticas de idolatria.
Nestas circunstâncias, os Eleusianos, os Artífices Dionisianos, os Assidianos ou os Essénios caíram em tal esquecimento que nenhuma menção relevante a eles é feita na História contemporânea.
No século XI, durante as guerras das cruzadas, algumas sociedades foram instituídas na Palestina e na Europa, que adoptaram alguns regulamentos semelhantes aos das antigas fraternidades. Mas foi na Inglaterra, e principalmente na Escócia, onde os restos do antigo sistema, identificado com o dos Artífices Dionisianos, foram revividos nos tempos modernos.
Cætera desunt.
NOTAS
(1) O número de autoridades para provar isso são coletados em Kirker, vol. I p. 288.
Ogygia me Bacchum canit,
Osiris Egyptus putat,
Arabiæ gens Adoneum.
Ausonius em Myobarbum Epig. 29.
(2) Meursius reuniu todas as autoridades e fragmentos encontrados em autores antigos sobre as cerimónias de Elêusis.
(3) Plutarchus, De Iside et Osiride.
(4) Pesquisas sobre os Atlantes.
(5) Herodotus.
(6) Martiniere, Dicc. Geogr. art. Appollonia.
(7) Jamblicus, part. I, cap. 32.
(8) Plutarchus (in Vitæ Numæ) diz que “oferecer um número ímpar aos deuses celestiais e um número par aos terrestres é apropriado. O sentido desse preceito está oculto ao vulgar”.
O mesmo Plutarco (in Vitæ Lycurgi) explicando o número dos senadores espartanos, que tinham 28 anos, diz: “algo talvez haja em ser um número perfeito formado por sete, multiplicado por quatro, e com isso o primeiro número depois de seis que é igual para todas as suas partes”.
Outra prova da importância mística dos números é encontrada em Plutarco (in Vitæ Fabii): “A perfeição do número três consiste em ser o primeiro dos números ímpares, o primeiro dos plurais e conter em si as primeiras diferenças, e os primeiros elementos de todos os números”.
(9) A fertilidade causada pelas inundações do Nilo sobre o país adjacente fez com que este rio fosse considerado uma representação mística do Sol, pai de toda a fecundidade da terra; e, portanto, um nome foi dado a ele contendo o número 365, ou dias no ano solar. Os gregos preservaram assim o nome:
Ν {Greek N} 50
Ε {Greek E} 5
Ι {Greek I} 10
Λ {Greek L} 30
Ο {Greek O} 70
Σ {Greek S} 200 = 365.
(10) Potter’s, Grec. Antiq.
(11) Dionysius Siculus, Lib. VI, diz que os atenienses criaram os mistérios de Elêusis, mas no primeiro livro da sua biblioteca ele diz que foram trazidos do Egipto por Erecteus. Theodoret, Lib. Grec. Affect, diz que foi Orfeu quem criou esses mistérios, imitando, porém, as festividades egípcias de Ísis. Arnobius e Lactantius descrevem esses mistérios, assim como Clemens.
(12) Hesichius in γδραυ (greek gdrau). “Eles foram exortados a dirigir suas paixões”. Porphir. ap. Sob. Ecclog. Phis., p. 142. “Para merecer promoção, melhorando suas mentes”. Arrian in Epictet. Lib. 3, cap. 21.
(13) Clemens, Strom. Lib. I., p. 325. Lib. VIII., p. 854.
(14) μυσχοσ ςηχοσ (greek, musxos shxos).
(15) πετρωμα (greek, petrwma).
(16) αντοψια (greek, antopsia).
(17) ιεροφαντεσ (greek, ierofantes).
(18) Mairobius, Saturnalia, lib. I, p. 8. Vou reproduzir aqui uma tradução em português desta passagem (p.11), que li em algum lugar.
“Aquele que deseja a pompa da vestimenta sagrada, para expressar o corpo resplandecente do Sol, deve primeiro assumir um véu de brilho púrpura. Como feixes de luz branca combinados com luz ígnea, no seu ombro direito, a seguir, a pele larga de uma mula, amplamente diversificada manchada com orgulho, deve pendurar uma imagem do polo divino, e estrelas do sidéreo cujas orbes brilham eternamente, uma esplêndida zona dourada, então, no seu colete. Em seguida, ele deve tomá-lo e amarrá-lo em torno do seu peito, Em sinal poderoso como com luz dourada, o Sol poente dos últimos limites da Terra, com a noite repentina emergindo com uma força incomparável, envia dardos através das ondas do velho oceano em seu curso; um esplendor sem limites, portanto, consagrado no orvalho, joga em seus redemoinhos, glorioso à vista, enquanto suas águas circunfluentes se espalham, cheio na presença do Deus radiante; mas o círculo do oceano, como uma zona de luz, os seios largos do Sol envolvem e encantam a visão do anel da varinha.”
(19) δαδουχος (greek, dadouxos).
(20) Atheneus, Lib. V. cap. 7. Apuleius, Lib. II, Metamorph.
(21) Fragmentos, adicionados a Calmet’s Dict. Dissertação sobre as Caravanas, extraída de Col. Campbell’s Travels in India.
(22) Ib.
(23) “A parte perfectiva precede a iniciação, e a iniciação precede a inspeção”. Proculs. in Theol. Plat., lib. IV., p. 220.
(24) Mais uma vez, a filosofia pode ser chamada de iniciação nas cerimónias sagradas e na tradição dos mistérios genuínos, pois existem cinco partes da iniciação. A primeira é a purgação anterior, pois os mistérios não são comunicados a todos os que desejam recebê-los, mas há certos personagens que são impedidos pela voz do pregoeiro, como aqueles que possuem mãos impuras e uma voz inarticulada, visto que é necessário que aqueles que não são expulsos dos mistérios sejam primeiro refinados por certas purgações; mas após a purgação, a tradição dos direitos sagrados é bem-sucedida. A terceira parte é denominada inspeção. E a quarta, que é o fim, a fixação das coroas: para que o iniciado possa, por esses meios, ser habilitado a comunicar a outros os ritos sagrados nos quais foi instruído; se depois disso ele se tornar o portador da tocha, ou um intérprete dos mistérios, ou sustentou alguma outra parte do sacerdócio, recebe a quinta, que é produzida a partir de tudo isso: é a amizade com a Divindade e o gozo dessa felicidade, que surge da conversa íntima com os deuses. Theo of Smyrna, in Mathemat., p. 18.
(25) “Aproximei-me dos confins da morte, e pisando na soleira de Proserpina, e sendo carregado por todos os elementos, voltei à minha situação primitiva. Nas profundezas da meia-noite vi o sol brilhar com uma luz esplêndida, junto com os deuses infernais e sobrenaturais, e me aproximando mais dessas divindades, eu prestei o tributo de adoração devota”. Apuleius, Metamorph., lib. III.
(26) πασοσ (greek, pasos).
(27) Neste mês, Athyr, de acordo com o ano juliano, corresponde a Dezembro, ou solstício de Inverno; mas com os judeus, o mês de Thamuz, quando as solenidades de Adónis eram celebradas na Judeia, era em Junho, ou solstício de Verão. A razão parece ser que os judeus, tirando este mês do ano vago dos egípcios (e não do ano fixo), estabeleceram Thamuz no solstício de Verão. Selden, De diis Syriis. Kirker, vol. I., p. 291.
(28) ζητηςισ (greek, zhthsi), Plutarchus.
(29) ευρεςισ (greek, euresis), Plutarchus.
(30) Devemos aqui observar que as fábulas pretendiam transmitir mais de um significado; em prova disso copiamos a seguinte passagem: “Das fábulas, algumas são teológicas, outras animistas (ou relacionadas à alma), outras materiais, e, por último, outras misturadas de todas essas. As fábulas são teológicas quando não empregam nada de corpóreo, mas especulam sobre a própria essência dos deuses, como a fábula que afirma que Saturno devorou seus filhos: nada mais insinua do que a natureza de um deus intelectual, uma vez que todo intelecto retorna a si mesmo. Mas especulamos fisicamente as fábulas quando falamos sobre as energias dos deuses sobre o mundo; como, quando considerando Saturno igual ao Tempo, e chamando as partes do Tempo de filhos do Universo, afirmamos que os filhos são devorados por seu pai. Mas usamos as fábulas de modo animista quando contemplamos as energias da alma; porque a intelecção de nossas almas, embora por uma energia discursiva, ela corre para outras coisas, mas permanecendo seu pai. Por último, as fábulas são materiais, como os egípcios empregam ignorantemente, ao considerar e chamar de corpóreas divindades da Natureza, como Ísis, Terra, Osíris, Humidade, Tifão, Calor; ou ainda denominando água de Saturno, frutas de Adónis e vinho de Baco. E, na verdade, afirmar que eles são dedicados aos deuses, da mesma maneira que ervas, pedras e animais, é parte dos homens sábios; mas chamá-los de deuses é apenas território de tolos e loucos; a menos que falemos da mesma maneira como, quando de acordo com o costume estabelecido, chamamos a órbita do Sol e seus raios. Mas podemos perceber o tipo misto de fábulas, bem como em muitos outros detalhes, quando se referem àquela discórdia no banquete dos deuses através de uma maçã de ouro, que gerou uma disputa entre as deusas, tendo eles sido enviados por Júpiter para tomar o julgamento de Paris, e que encantado com a beleza de Vénus, deu-lhe a maçã em preferência às demais. Pois nesta fábula o banquete denota os poderes supramundanos dos deuses, e por conta disso uma conjunção subsistente entre eles; mas a maçã de ouro denota o mundo que, por causa da sua composição de naturezas contrárias, não é indevidamente dito para ser lançado pela discórdia ou contenda. Mas, novamente, uma vez que diferentes dons são dados ao mundo por diferentes deuses, eles parecem competir entre si pela maçã. E uma alma que vive de acordo com os sentidos (pois esta é Paris) e não percebe outros poderes no Universo, afirma que a maçã é a única a beleza de Vénus. Destas espécies de fábulas, as teológicas pertencem aos filósofos, as físicas e animistas aos poetas. Mas eles foram misturados com ritos iniciais, e a intenção de todas as cerimónias místicas é nos unir com o mundo e os deuses”. Salust, o Filósofo Platónico.
(31) Orpheus, Hymn. Sol and Adon.
(32) Kirker, vol. I. p. 217. Vide Hide, Hist. Vet. Persar., p. 113.
(33) “Os egípcios começaram a contar os seus meses a partir do momento em que o Sol entra, agora, no início do signo de Áries”. Rabb. A. Seba.
(34) Strabo (L. 17) informa-nos que no seu tempo os egípcios não sacrificavam ovelhas, somente na Idade Tardia.
(35) “Por que ele (Arato) considera o início do ano em Câncer, quando os egípcios datam o início do ano em Áries?” Theon., p. 69. Herodotus (L. 2, cap. 24) diz que a estátua de Júpiter Amon tinha a cabeça de um carneiro, e Eusébio (Præparat. Evang., L. 3, cap. 12) conta-nos que o ídolo Amon tinha cabeça de carneiro com chifres de cabra.
(36) Também Píndaro, falando dos mistérios de Elêusis, deduz esta inferência:” Bem-aventurado aquele que, tendo visto as coisas comuns debaixo da terra, também sabe o que é o fim da vida, pois conhece o império de Júpiter”. Clemens, Strom., Lib. III. p. 518. “Desde que em Phædo ele venera com um silêncio condizente, a afirmação proferida nos Discursos Arcanos: que os homens são colocados no corpo, como em uma certa prisão, protegidos por um guarda, e testemunha, de acordo com as cerimónias místicas, as diferentes atribuições das almas puras e impuras no Hades; seus hábitos e o caminho triplo (p. 18) surgindo de suas essências, e assim, de acordo com as instituições paternas e sagradas, todas cheias de teoria simbólica, e das descrições poéticas sobre a ascensão e descida das almas, dos signos dionisianos, o castigo dos Titãs, as trivialidades e peregrinações no Hades, e tudo do mesmo tipo”. Proclus, in Comm. of Plauto’s Politics, p. 723.
(37) Macrobius.
(38) “Vivemos a morte deles e morremos a vida deles”, disse o próprio Macrobius.
(39) “Os antigos teólogos também testificam que a alma está no corpo, como se estivesse num sepulcro, para sofrer punição”. Clemens, Strom., Lib. III, p. 518.
(40) “Quando a alma desceu à geração, ela participa do mal e se precipita profundamente na região da dissimilitude, para se fundir inteiramente em nada mais do que na lama escura.” Novamente: “A alma, portanto, morre pelo vício, tanto quanto é possível para a alma morrer, e a morte da alma é, enquanto fundida ou batizada, por assim dizer, no corpo presente (pág. 19), para descer à matéria, e ser preenchida com sua impureza; e depois de partir deste corpo, ficar absorvida em sua imundície, até que ela retorne a uma condição superior, e eleve seus olhos do lodo opressor, e lá adormeça.” Plotino, em Enead. I, Lib. VIII, p. 80. “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” Rom. VII, v. 24.
(41) “Aquele que não consegue, pelo exercício da razão, definir a ideia do bem, separando-a de todos os outros objetos, e penetrando, como numa batalha, por meio de todo tipo de argumento; esforçando-se por refutar, não segundo a opinião, mas segundo a essência, e procedendo através de todas essas energias dialéticas, com uma razão inabalável: aquele que não pode fazer isso, você não diria que ele não conhece o próprio bem, nem qualquer coisa que é devidamente denominado bom? E você não afirmaria que tal pessoa, quando apreende qualquer certa imagem da realidade, a apreende mais por meio da opinião do que da ciência; que na vida presente ele está mergulhado no sono e familiarizado com as ilusões dos sonhos, e que antes de ser despertado para um estado de vigilância, ele descerá ao Hades e será dominado por um sono perfeitamente profundo?” Platão, De Rep., Lib. VII.
(42) Os egípcios chamavam de matéria (que eles simbolicamente denominavam água) a escória ou sedimento da primeira vida, sendo a matéria, por assim dizer, um certo lodo ou lama. Simplicius, in Arist. Phis., p. 50.
(43) Por fim, para que eu possa compreender a opinião dos antigos teólogos sobre o estado da alma após a morte, em poucas palavras, eles consideravam, como afirmamos em outro lugar, as coisas divinas como as únicas realidades, e que todas as outras eram apenas as imagens (p. 20) ou sombras da verdade. Consequentemente, eles afirmaram que os homens prudentes, que zelosamente se empenhavam nos assuntos divinos, estavam acima de todos os outros em estado de vigilância. Mas aqueles homens imprudentes, que perseguiam objetos de uma natureza diferente, sendo adormecidos, por assim dizer, estavam apenas envolvidos nas ilusões de um sonho; e que se por acaso morressem durante o sono, antes de serem despertados, seriam afligidos por visões semelhantes e ainda mais nítidas em um estado futuro. E aquele que nesta vida perseguiu realidades, após a morte, desfrutaria da verdade mais elevada; assim, aquele que estava familiarizado com falácias, seria doravante atormentado com falácias e delírios ao extremo: como um se deliciaria com verdadeiros objetos de prazer, assim o outro seria atormentado com ilusórias aparências da realidade. Ficinus, De Immortalitate Anim., Lib. XVIII, p. 411.
(44) Platão menciona que este Zoroastro doze dias após a sua morte, quando já colocado na pilha, voltou à vida, o que talvez representasse, senão algo mais profundo, a ressurreição daqueles que são recebidos no céu, passando pelos doze signos do Zodíaco; e ele diz, da mesma forma, que eles seguram a alma para descer pelos mesmos sinais quando a geração ocorrer. Isso não deve ser entendido de outra forma senão nos doze trabalhos de Hércules, pelo qual, quando terminado, a alma é libertada de todas as dores deste mundo. Clemens, Strom., Lib. V, p. 711.
(45) Apuleius.
(46) Mocopulus, in Hesoid, Ptol., See Cudworth, Book. I. chap. 4. “Este Deus, quer deva ser chamado aquilo que está acima da mente e entendimento, ou a ideia de todas as coisas, ou o único (visto que a unidade parece ser a mais antiga de todas as coisas), ou então, como Platão costumava chamá-lo, o Deus, digo esta causa uniforme de todas as coisas, que é a origem de toda beleza e perfeição, unidade e poder, produziu de si mesmo um certo Sol inteligível, em todos os sentidos semelhante a ele, do qual o sensível, o Sol, é apenas uma imagem.” Julian’s Orat. in praise of the Sun. “Vemos a unidade (de Deus) como o Sol (se dista)ncia obscuramente, e se você se aproxima, mais obscuro ainda fica, e, por último, impede ver qualquer outra coisa. Na verdade, é uma luz incompreensível, inacessível, e profundamente comparada com o Sol, para o qual quanto mais você olha, mais cego você se torna.” Damascius, Platonicus, De Unitate. Os restos mortais dos sectários de Zoroastro, chamados agora na Pérsia de Guebres, e que levam uma vida miserável, e mais perseguidos pelos maometanos do que os judeus na Europa pelos cristãos, ainda realizam as suas devoções e oram em direção ao Sol ou Fogo, mas afirmam que não os adoram, apenas os concebem como símbolos da Divindade. Vacuum Stanley, De Vet. Persar.
(47) “O primeiro Deus, antes do ser e único, é o pai do primeiro Deus, que ele gerou, preservando sua unidade solitária, e esta está acima do entendimento, e aquele protótipo que se diz seu próprio pai seu filho, um pai, e Deus verdadeiramente bom Este é o começo, Deus dos deuses, unidade de um, acima da essência, o princípio da essência, a essência vem dele, por isso se chama pai da essência: este é o ser, o princípio da inteligência; são princípios os mais antigos de todos… Essa inteligência atuante ou operante, que é a verdade do Senhor, e a ciência, na medida em que prossegue gerando, trazendo à luz o poder oculto das razões ocultas, é chamado na língua egípcia Ammon; mas na medida em que age sem falácia, e da mesma forma artificialmente com a verdade, é chamado Ptah; os gregos chamam de Vulcano, considerando a atuação ou operação; na medida em que ele é o operador de todo o bem, é chamado Osíris, que em consequência de sua superioridade tem muitas outras denominações, em consequência dos muitos poderes e diferentes ações que exerce.” Jamblicus, De Myster. Egipto.
(48) Os Hebreus chamam de שרופםח םש (hebreu ShM HMPWRSh), Shem Hamphoresh.
(49) Ver nota da pág. 14.
(50) Porphyr. Citado por Eusebius, De Præp., Lib. III, cap. 2.
(51) Eneid., Lib. VI.
(52) “Nos ritos sagrados, as purificações populares são produzidas em primeiro lugar, e depois aquelas que são mais Arcanas. Mas, em terceiro lugar, coleções de várias coisas em uma são recebidas, após o que segue a inspeção. As virtudes éticas e políticas, portanto, são análogas às purificações aparentes (ou populares). Mas as virtudes catárticas, como banir todas as impressões externas, correspondem às purificações mais ocultas. As energias teóricas sobre os inteligíveis são análogas às coleções; mas a contração dessas energias em uma natureza indivisível, corresponde à iniciação. E a simples autoinspeção de formas simples, é análoga à visão epótica.” Olimpiodorus, in Plato’s Phæd.
(53) Vide nota pág. 18.
(54) “A interpretação do tipo simbólico é útil em muitos aspectos, pois leva à teologia, à piedade e para mostrar a engenhosidade da mente, a concisão da expressão, e serve para demonstrar a ciência.” Clemens, Strom., Lib. V, p. 673.
(55) “Pois antes da entrega desses mistérios algumas expiações deveriam acontecer, para que aqueles que deveriam ser iniciados deixassem opiniões ímpias e se convertessem à verdadeira tradição.” Clemens, Strom., Lib. VII, p. 848.
(56) “Alexandre ganhou dele (Aristóteles) não apenas conhecimento moral e político, mas também foi instruído naqueles ramos mais secretos e profundos da ciência (p. 25), que eles chamam de epópticos e acromáticos; e que eles não comunicaram a todos os comuns eruditos. Pois quando Alexandre estava na Ásia e recebeu a informação de que Aristóteles havia publicado alguns livros, nos quais esses pontos eram discutidos, ele escreveu-lhe uma carta, em nome da Filosofia, na qual seria responsabilizado pelo curso que ele havia feito disto.” Alexandre a Aristóteles: “Prosperidade. – Você errou ao publicar as partes acromáticas da ciência. Em que diferiremos dos outros, se o conhecimento mais sublime que adquirimos de você se tornasse comum a todo o mundo? Em vez disso, sobressai a maior parte da humanidade nas partes superiores do conhecimento, do que na extensão do poder e domínio. Adeus.” Plutarch, in Vit. Alex.
(57) Aulus Gellius, Lib. XX, cap. 5.
(58) “Ele é chamado de Dionísio, porque é carregado com um movimento circular através dos céus imensamente estendidos.” Orphic vers. apud.
(59) “De facto, há, como diz o ditado, muitos que entram nos mistérios: uma multidão certamente de portadores de galhos (Thyrsirii), mas muito poucos Baquios.” Sócrates em Platão; apud. Clemens Strom., Lib. I, p. 372.
(60) Livii., Lib. XXXIX, cap. 8 e 18.
(61) Lucian, in Demonat., tom. 2, p. 308.
(62) Plutarch., De aud. Poet., tom. 2, p. 21.
(63) Diogen. Lært., Lib. VI § 39.
(64) “Uma mulher perguntou quantos dias deveriam se passar depois que ela ter relações íntimas com o seu marido, antes que ela pudesse assistir aos mistérios de Ceres. A resposta foi: com seu marido, imediatamente, com um homem estranho, nunca.” Clemens, Strom., Lib. IV, p. 619.
(65) Como prova das ideias sublimes de Deus, alimentadas pelos sábios egípcios, em contradição com essas acusações grosseiras, copiamos as seguintes passagens do próprio Hermes Trismegisto, conforme relatado por Pimandrus. “O Artífice fabricou todo o Universo com a sua palavra, no com as suas mãos. Ele, porém, o tem sempre presente na sua mente, agindo todos, um só Deus, constituindo tudo com a sua vontade; este é o seu corpo, não tangível, não visível, nem semelhante a qualquer outro: pois ele não é fogo, nem criado, nem ar, nem mesmo espírito; mas dele depende tudo o que é bom; porém, tal ele é, porque tudo lhe pertence”. Novamente: “Mas você não deve querer o nome principal de Deus, nem deve ignorar o que é claro e parece oculto de muitos; pois, se nunca aparece, não está em lugar nenhum. Tudo o que aparece apenas à sua vista é criado; o que está oculto é totalmente eterno; nem é uma razão para que apareça, já que nunca acaba; ele coloca tudo diante dos nossos olhos, mas permanece oculto; porque goza de uma vida totalmente eterna: claramente ele traz tudo à luz, mas ele se deleita no adytum; um, e não criado, incompreensível para nossa imaginação (phantasia); mas como tudo é iluminado por ele, ele brilha em todas e através de todas as coisas; e ainda aparece principalmente para aqueles a quem ele tem prazer comunicar seu nome”. Novamente: “Não há nada na natureza que não seja ele; ele é tudo o que existe; ele é até o que não é; e o que é, ele trouxe à luz. E como nada pode ser feito sem um criador, então você deve pensar que a menos que Deus esteja sempre agindo, é impossível para que qualquer coisa exista no céu, ar, terra, mar, em todo o mundo, em qualquer partícula do mundo, no que é e no que não é. Este é o melhor nome, Deus; esta, novamente, é a mais poderosa de todas as coisas; isso, conspícuo em mente; este, presente com os olhos; este, incorpóreo; isto, por assim dizer, multicorpóreo, pois nada está nos corpos que não esteja nele; porque ele só existe em todos; ele tem todos os nomes; porque ser é o único pai; então não tem nome porque ele é o pai de todos”. Apud Kirker, Vol. II, p. 504.
(66) Sinésio, falando do hierofante egípcio, observa assim; “eles têm χωμαςτη`ρια (greek, xwmasth`ria), que são arcos, ocultando, dizem, as esferas.” In Plutarch., De Iside and Osiride.
(67) Júlio Africano, sacerdote cristão, de nascimento judeu, fez um pequeno compêndio da história de Manethon, para dispensar o próprio autor: tratava-se do ano 230 da era cristã. Ao descobrir que a Cronologia Egípcia representava o mundo alguns milhares de anos mais velho do que a cronologia da Bíblia, ele desfigurou as datas de Manethon a ponto de fazê-lo concordar com a Bíblia. Além disso, esta obra de Africanus também se perdeu, e temos apenas extratos dela, preservados na obra de um monge, geralmente conhecido pelo nome de Sincelo, que confessa ter mutilado e alterado Africanus. Agora, esse indivíduo nem mesmo tinha a Bíblia original mas apenas a tradução grega, que reconhecidamente tem a cronologia viciada; e ainda assim os dados de Manethon deveriam ser desfigurados e interpolados, para torná-los compatíveis com a tradução incorreta da Bíblia para o grego.
(68) “Celsus, parece-me aqui, fazer apenas como um homem, viajando para o Egipto, onde os sábios dos egípcios, de acordo com o aprendizado do seu país, filosofam muito sobre as coisas que são consideradas divinas, enquanto os idiotas, entretanto, ouvindo apenas certas fábulas, das quais eles não sabem o significado, ficam muito satisfeitos com isso. Celsus, digo eu, faz como os peregrinos no Egipto (p. 29) que conversam apenas como aqueles idiotas, e não foram de forma alguma instruídos por qualquer um dos sacerdotes, em seus mistérios arcanos e recônditos, devendo-se gabar ele de que sabia tudo o que pertencia à teologia egípcia.” Origins contra Celsum, Lib. I, p. 11. “Quando entre os egípcios há um rei escolhido fora da ordem militar, ele é imediatamente levado aos sacerdotes, e por eles instruído naquela teologia misteriosa que esconde verdades misteriosas sob obscuras fábulas e alegorias.” Plutarch., De Iside, p. 354.
(69) Vamos nos contentar, aqui, com a autoridade de Kircher, um dos mais eruditos antiquários em assuntos egípcios. “Portanto, Hermes, aquele grande autor da doutrina hieroglífica, elucidando muitas coisas, principalmente sobre Deus, e suas perfeições, também da criação do mundo, e sua preservação, da administração do mesmo mundo e suas partes, tanto por ele mesmo, e por meio dos seus anjos, ao ouvir falar dos Patriarcas sobre o governo do mundo, se esforçou seriamente para penetrar nessas coisas: daí surgiu uma nova filosofia na qual tratava de coisas mais sublimes do que os ignorantes poderiam entender, ele velou sob uma nova arte, depois chamada hieroglífica, que estava oculta de rudes entendimentos, não em monumentos de madeira, mas em figuras místicas, gravadas em pedras duras, para um memorial eterno com a posteridade; como uma ciência sublime das coisas que merecem veneração eterna e digna de ser recomendada a todos; e em imitação do grande Artífice eterno, na administração do mundo, ele constituiu o seu sistema, que foi comunicado apenas aos hieromistas selecionados, sacerdotes, estolistas e hierogramatistas, homens de grande génio, sábios para o governo do Estado, de acordo com as regras de administração, prescritas nos obeliscos, e os homens que haviam demonstrado habilidade e aptidão e, além disso, foram restringidos, por juramento, a mantê-lo em segredo. Por estes meios os sacerdotes, sendo olhados por todos com admiração, em consequência da sua ciência nas coisas novas, expressas nos símbolos, eram honrados pela multidão quase como meio-deuses. Mas para aumentar essa veneração, eles contaram ao povo muitas coisas sobre as aparições dos deuses, suas respostas e como eles deveriam ser adorados para acalmá-los e torná-los propícios: a isso devemos adicionar o grande lucro que tiveram com suas máquinas e invenções mecânicas e sua habilidade em matemática; e fazendo estátuas que moviam os seus olhos e cabeça, para expressar aprovação ou desaprovação: e que a multidão miserável foi enganada, pagando sempre para obter um favor dos deuses, ou para advertir sua raiva. Daí veio que, com o passar do tempo, aquela religião concebida por Trimegistus em um sentido sincero, foi degenerada gradualmente em aberta e declarada idolatria.” Kircher, vol. IV, p. 82.
(70) “Ó Egipto, Egipto, da tua religião apenas as fábulas permanecem, e aquelas incríveis para a tua posteridade.” Trimegistus, in Asclepio.
(71) A emigração dos jónios para a Ásia Menor é mencionada por Heródoto e outros, mas a época é fixada por vários autores de forma diferente: por Playfair, no ano 1044 a.C.; por Gillies, em em 1055 a.C.; por Barthelemy, in Anacharsis, em 1076 a.C.
(72) “Diz-se que o chefe da colónia jónica era Androclus, um filho legítimo de Codrus, o rei de Atenas; portanto, é relatado que os jónios estabeleceram a sua realeza; e os descendentes dessa raça, mesmo agora, são chamados reis, e gozam das suas ereções, isto é, um lugar onde assistem aos espetáculos e aos jogos públicos, usando a púrpura real, e um bastão em vez do ceptro, e os ritos de Elêusis.” Strabo, Lib. XIV, p. 907. Esta emigração também é mencionada por Herodotus, Lib. I, cap. 142 e 148; Aelianus, Lib. VIII; Pausanias, in Achaicis; Plutarchus, in Homero; Veleius Paterculus, in Chronico; Clemens, Lib. I, Strom.
(73) Vide Strabo, acima.
(74) “Byblos era a capital de Cinera, e havia um templo de Apolo, situado em um local elevado, não muito longe do mar. Depois fica o rio chamado Adónis.” Strabo, Lib. XVI, p. 1074.
(75) “Lebedos, foi a sede e assembleia dos Artífices Dionisianos, que habitam desde a Jónia ao Helesponto; lá eles tiveram anualmente as suas reuniões solenes e festividades em homenagem a Baco. A sua primeira sede foi Theo.” Strabo, Lib. XIV, p. 921. O tradutor latino de Estrabão traduz os Artífices Dionisianos, Διονυςιοσ τεχνε (greek, Dionusios texne scenicos artificers), porque Baco ou Dioniso era suposto ser o inventor dos teatros e cenas, derivado do heb. זכש (hebreu, ShKZ}, “para habitar”.
(76) Polydor. Virg. de Rer. Invent, I, 3 e 13.
(77) Strabo, p. 471.
(78) Da aplicação de instrumentos de arquitetura à moralidade, os filósofos platónicos e pitagóricos pegaram não apenas símbolos, mas palavras para explicar as nossas ideias morais. Por exemplo, um homem certo (reto); obrigação do ligamento (ligare) à mesma lei (lex ad ligare); para enquadrar (quadrare) as nossas acções, justum aequum, etc. Mente rude, mente polida; de pedra bruta e pedra polida, etc.
(79) As reuniões ou assembleias dos Artífices Dionisíacos tinham vários nomes, ασ ςυνοιχια (greek, as sunoixia contubernium), o qual era o local do seu encontro. A sociedade era chamada às vezes de ςυναγωγη (greek, sunagwgh), “collegium“; ἄρεςισ (greek, háiresis); “secta“; ςυνοδοσ (greek, sunodos), “congregatio“; χοινοσ (greek, xoinos), “communitas“. Aulus Gellius, Lib., cap. II.
(80) See Chiseul, Antiquitates Asiaticæ, p. 95.
(81) “Este exemplo imitou aqueles jónicos que emigraram da Europa para os países marítimos de Caria (Ásia Menor) e também os dórios, seus vizinhos, construindo templos com uma despesa comum. Os jónios construíram o templo de Diana em Éfeso, os dórios o de Apolo em Triopii, onde em um certo período eles se repararam com suas esposas e filhos, e lá realizaram ritos sagrados, e tiveram um mercado, da mesma forma jogos, corridas, lutas, festas musicais de diferentes tipos, e fizeram oferendas comuns aos deuses. Eles realizaram os espetáculos e os negócios do mercado, ou feira, e cumpriram uns com os outros os deveres dos semelhantes; se houvesse algum litígio entre as cidades, eles se sentavam como juízes para resolver a disputa; além disso, nessas assembleias eles debateram quanto à guerra com os bárbaros, e os meios de manter um acordo mútuo entre as nações.” Dionis. Halicarn., Lib. III, p. 229, edit. 1691.
(82) “Depois disso, os habitantes da Jónia consideraram apropriado recorrer a Cambises, e tendo-lhe apresentado qual era o seu negócio, o rei os ordenou que estivessem em sua presença e perguntou quem eram e como passaram a viver em seus domínios; e tendo examinado e verificado de onde eles procediam, ele os admirou, e preferiu que fossem erigidos em uma sociedade por si mesma do que permitir que recebê-los como vindos de outro país, pois ele pensava que não era decoroso receber favores de outros que peregrinaram em seu país, como se fosse receber aqueles serviços como pagamento por suas habitações, e, portanto, para demonstrar isso despediu-os com presentes, como marcas da sua munificência”. Libanius in Orat. XI Antiochus., vol. II. p. 343.
(83) Robertson’s Greece, p. 127.
(84) Eusebius, Prep. Evang., LIII, cap. 12, p. 117.
(85) Reis, cap. V.
(86) A tradução inglesa da Bíblia em I Reis, v. 18, onde o hebraico original diz Gibblim, םילבג (hebreu, GBLYM), ou Gibblites, que significa “habitantes de Gebbel”, torna-o, pelo apelido, “quadrados de pedra”. A prova de que esta leitura não é correta, não é apenas por causa das opiniões diferentes de todas as outras traduções, que entendem por este Gibblim os “habitantes de Gebbel”; mas que o mesmo inglês (p. 34 da tradução), em outra parte da Bíblia, traduz a mesma palavra por “antigos de Gebbal” (Ezeq., cap. XXVII, v. 9). Agora que Gebbel era igual a Biblos, está claro; porque a versão da Septuaginta sempre traduz este Gebbel por Biblos, e embora houvesse várias cidades com esse nome, esta parece ser aquela que fica entre Trípoli e Beirute, ainda chamada Gebail. De facto, Luciano, em seu Tratado De Dea Síria, afirma expressamente que Gabala era Biblos, famosa pelo culto a Adónis.
(87) Pois encontramos em Ezequiel essas palavras: “E eu vi as mulheres sentadas chorando por Thamuz”, isto é, Adónis. Assim, porém, foi o que fizeram os habitantes daquelas cidades, em testemunho de que enviaram cartas a mulheres que estavam em Biblos, quando Adónis foi encontrado, e depois escaladas (juntas) e jogadas ao mar, dizem que foram carregadas (levadas) espontaneamente para Biblos; e, quando lá chegaram, as mulheres pararam de chorar por Adónis.” Procopius em Isaiah, cap. XXVIII.
(88) Josephus, Antiquit., Lib. VIII, cap. 5.
(89) I Reis, cap. XI, v. 5 e 6.
(90) Ezeq., cap. VIII, v. 14. Thamuz significa o nome de um mês, e também o nome de um ídolo ou divindade, que mesmo na opinião de São Jerónimo é o mesmo que Adónis. Plutarco diz que os egípcios chamavam Osíris de Ammuz, e daí foi derivado de forma corrupta o nome de Júpiter Amon. Robertson (Thesaurus Linguæ Sanctæ) diz que a palavra Ammuz (leia-se Ammoum) usada por Heródoto e Plutarco, eram corrupções do hebraico Thamuz, זוםת (hebreu, TMWZ). Eu preferiria dizer que a palavra era originalmente egípcia e tornada hebraica pela adição do formativo ת (hebreu, T); e ainda mais, porque Ammuz na língua egípcia significa (pela explicação de Manetho em Plutarco) “algo obscuro ou oculto”, que tem uma alusão evidente à ocultação ou morte simbólica de Osíris ou Adónis.
(91) Marc., cap. XII, v. 18.
(92) Assim, nos números 3, 5, 7, 12, 15 deve ter sido preservado como essencial. Nas cerimónias, o símbolo da morte e ressurreição; o cruzamento do equinócio duas vezes, etc. Na época, a estação do ano, quando o Sol chega aos dois trópicos, o nascente, o sul, o poente, etc.
(93) Cron., cap. III, V. 2.
(94) Ver nota pág. 10.
(95) πετρωμα (greek, petrwma).
(96) Vitruvius, Lib. IV, cap. 5.
(97) “Com razão, portanto, Platão, sabendo que o mundo é o templo de Deus, mostrou um lugar na cidade onde os símbolos deveriam responder.” Clemens, Strom., Lib. V, p. 691.
(98) Devemos aqui primeiro citar a autoridade dos judeus neste ponto. “Agora, consideremos o que pode ser subindicado pelos querubins e pela espada flamejante girando em todas as direções. E se isso devesse ser considerado a circunvolução de todos os céus?” “Mas, da espada flamejante girando para todos os lados, pode-se entender que significa o movimento perpétuo destes (querubins) e de todos os céus. Mas, e se fosse tomada de outra forma? De modo que os dois querubins significam os dois hemisférios.” Philo., Judeus, p. 111 & 112. “A túnica do sumo sacerdote, visto que era de linho, representa a terra; o azul, o polo do céu; os (relâ)mpagos eram indicados pelas romãs; os trovões pelo som dos sinos, & c “………………………… Mas os dois sardonyxs, com os quais a vestimenta pontifical é presa, denotam o Sol e a Lua, mas se alguém deseja referir as doze pedras aos doze meses, ou ao mesmo número de estrelas (constelações) no círculo, que os gregos chamavam de Zodíaco, ele não se desviará do verdadeiro significado.” Josephus, Antiq., Lib. III. Agora para os padres cristãos: “Seria muito longo seguir as (declarações) proféticas e legais que foram expressas por enigmas: quase toda a Escritura divina oferece esse tipo de oráculos Aquele que raciocinar corretamente encontrará o suficiente para o propósito, (de que) daremos alguns exemplos. Então, por exemplo, o que os antigos falavam do Templo, os sete recintos, que também se referem a outras coisas na história dos hebreus, e o que era por dentro pelo aparato de vários símbolos, referentes às aparências, significam em sua composição o que se refere ao céu e à terra. Eles significam, então, o que para a natureza dos elementos importa a revelação de Deus. O linho, σιυςος (grego, Busos), da terra, o azul (hyacinthus) da cor do céu, pois é escuro; o escarlate, o fogo. No meio do Templo, porém, estava o véu, além do qual apenas os sacerdotes podiam ir; havia o incensário, símbolo da terra, que é este mundo, e do qual acontecem as exaltações. Mas aquele lugar, que depois dentro do véu, onde só o sumo sacerdote tinha permissão de entrar, e em certos dias; o pátio externo que estava aberto a todos os hebreus, dizem eles, era o meio entre o céu e a terra. Outros dizem que era o símbolo do mundo, que é percebido por nossos sentidos intelectuais. Mas a abertura que separou a infidelidade do povo (p. 39) foi estendido diante de cinco colunas, e separou aqueles que estavam no tribunal.” Clemens, Strom., L. V, p. 665. Este padre cristão explica essas colunas, pela seguinte passagem de Platão: “Platão diz que devemos contemplar essas colunas, e ver com diligência que nenhum profano se atreva a ir lá. São profanos que acreditam que nada existe, mas o que podem tocar com as mãos, as ações e gerações, e todas essas coisas que não podemos ver nas coisas que existem, são incontáveis. Tais são aqueles que não atendem a nada além dos cinco sentidos.” Clemens, Strom., Lib. V. “Agora, para o castiçal, que foi colocado no sul do incensário. Por isso foi exemplificado o movimento dos sete planetas, que têm seus movimentos no sul. Pois em cada lado do castiçal havia ramos, e neles lâmpadas; porque o Sol, também como uma lâmpada, é colocado no meio das outras (estrelas) errantes, e aquelas que estão acima dele, e aquelas que estão abaixo dele, por uma certa harmonia divina recebem luz dele.” Clemens, Strom., Lib. V, p. 666. “Essas coisas, porém, ditas sobre a arca sagrada, significam o mundo percebido pelos sentidos intelectuais, que são ocultos e fechados ao vulgar. Além dessas imagens douradas, cada uma com seis asas, elas significam os dois ursos, como alguns julga, ou, o que parece mais conveniente, os dois hemisférios. Na verdade, o nome de querubins significa um amplo conhecimento. Mas ambos têm duas asas e, portanto, significam o mundo sensível e o tempo decorrido pelo círculo do Zodíaco.” Clemens, Strom., Lib. V, p. 667. “Mas os 360 sinos, pendentes do manto comprido (do sacerdote), são as épocas do ano; pois se diz que este é o ano do Senhor, pregando e ressoando a grande chegada do Salvador.” Clemens, Strom., Lib. V, p. 668. “As duas pedras esmeraldas brilhantes, que estão na ombreira, significam o Sol e a Lua, que são os ajudantes da Natureza. Pois era suposto que o ombro fosse o começo da mão. Mas aquelas outras doze pedras, que estão dispostos em quatro linhas, descrevem para nós o círculo do Zodíaco e concordam com as quatro estações do ano.” Clemens, Strom., Lib. V, p. 691.
(99) O primeiro mês civil dos judeus, chamado Tisri, ירשית (hebraico, TYShRY), proveio do egípcio Misri, mudando apenas o ט (hebraico T) formativo para ת (hebraico T). E a palavra foi derivada de רםי (hebraico, YMR), recto esse, como então o Sol estava no equinócio: e os rabinos, até hoje, chamam o equinócio de ירשים (hebraico, MYShRY). Os gregos, soletrando mal o nome, chamam este mês egípcio de ημυσορυ (grego, hmusoru).
(100) O número 12, que é o dos meses do ano, e aludido em tantos tipos de Templo, deve ter proporcionado também facilidades para estabelecer o sistema dos Artífices Dionisianos; e, portanto, daremos alguma ideia da filosofia pagã anexada a este número, nos seguintes extratos de Suidas: “O grande Demiurgo, ou Arquiteto do Universo, empregou doze mil anos na obra que ele produziu, e dividiu em doze vezes as doze casas do sol.” Suidas, Art. Tyrrhenia.
“No primeiro mil, ele fez o céu e a terra. No segundo mil, o firmamento (expansão) que ele chamou de coelum. No terceiro mil, ele fez o mar, e a água que corre sobre a terra. No quarto, ele fez duas (p. 41) grandes tochas da Natureza. No quinto, ele fez os quadrúpedes, animais que vivem na terra e nas águas. No sexto, ele fez o homem.”
“Tendo os primeiros seis mil anos precedido a formação da raça humana, parece que não existirá senão durante os seis mil anos, que serão os demais para completar o período de doze mil, ao fim do qual terminará o mundo.” Suidas, Ib.
Agora, se você considerar cada signo do Zodíaco por 24.000 anos, você explicará o mistério acima. Quando o Sol sai de Áries, ou o signo da Primavera, diz-se que o mundo nasce; aqui começa o período da vida. Quando o Sol está em Câncer, ou no Verão, é o prazer e as delícias da vida. Quando em Libra, a vida declinou: depois disso, tudo é Inverno de morte; e daí surgem as fábulas sobre as quatro idades do mundo.
Os livros da mitologia persa nos explicam o mesmo significado.
“O tempo é de 12.000 anos, está dito na lei, que o povo celestial existia há três mil anos, e então o inimigo (Satanás ou Arhiman) não estava no mundo, o que faz seis mil anos.”
“Os mil bons apareceram no Cordeiro, no Touro, nos Gémeos, no Câncer, no Leão e na Ovelha, que fazem seis mil anos. Depois do mil de Deus, vem a Escala (Libra), Arhiman veio ao mundo (ou seja, o Inverno).” Boun Dehesh, tradução de Perron, p. 420.
“Ormuzd, falando na lei, diz, ‘Fiz as produções do mundo em 365 dias’. É por isso que os seis gahs gahambars (meses) estão incluídos no ano.” Ib., p. 400.
Astronomicamente falando, não existe um período ou ciclo de 12.000 anos. Mas (Jacques) Dupuis resolveu o mistério, dizendo que os períodos dos antigos indianos e caldeus respondiam à série 1, 2, 3, 4, ou 4, 3, 2, 1. Assim, a duração das quatro idades do mundo, de acordo com o Ezour Vedan, foram:
1ª era 4.000 anos
2ª 3.000
3ª 2.000
4ª 1.000
Memoirs de l’Academie des Inscript., tom. 31, p. 254. The Baga Vedan counts thus, p. 41:
1ª era 4.800 anos
2ª 3.600
3ª 2.400
4ª 1.200
Total: 12.000
Os indianos conceberam esse sistema por meio de uma vaca com quatro patas; ou o número doze tomado sucessivamente quatro vezes.
Outro período indiano estabelece a duração do mundo, assim:
1ª era 1.728.000 anos
2ª 1.296.000
3ª 864.000
4ª 432.000
Total: 4.320.000
Agora, o menor desses números (432.000) elevado a 2, 3 e 4 dará uma soma total de 4.320.000. Os indianos dizem que o ano dos deuses é composto pelos 360 anos dos homens; se você dividir 4.320.000 por 360, terá 12.
No período caldeu, dado por Berosus, encontramos os mesmos números de 432.000, e para compô-lo ele segue a ordem aritmética, assim:
1º grau 12.000
2º 24.000
3º 36.000
4º 48.000
5º 60.000
6º 72.000
7º 84.000
8º 96.000
Total: 432.000
(101) As colunas ou pilares foram denominados זיכי (hebraico, YKYZ) e זעב (hebraico, BOZ). O primeiro significa “estabelecer”, de זיכ (hebraico, KYZ), estabelecer ou firmar; o segundo significa “força”, da proposição ב {hebraico, B), “em”, e da raiz זוע (hebraico, IWZ), “força”.
(102) “Ora, os Assidianos foram os primeiros entre os filhos de Israel a buscar a paz para eles.” Macab., VII, v. 13. Eu deveria traduzir esta passagem de forma diferente, assim: “E aqueles que entre os filhos de Israel eram chamados de Assidianos, foram os primeiros desta assembleia e desejavam pedir-lhes paz.” De acordo com essa interpretação, por muito mais expressiva do texto, vê-se que os Assidianos eram um corpo respeitável, pois foram os primeiros daquela assembleia. Em I Macab., II,. v. 42, está dito: “Então veio a ele uma companhia de Assidianos, que eram homens poderosos de Israel, sim, todos os que foram voluntariamente devotados à lei.” A própria palavra Assidiano ou Cassidiano é supostamente derivada do hebraico Cassidim, que no Salmo 78, v. 2, é tomado no sentido de homens piedosos, santos, cheios de piedade e misericórdia.
(103) “Portanto, por milhares de séculos, incrível de se dizer, este povo é eterno, sem que nenhum corpo tenha nascido entre eles.” Plínio, Lib. V, cap. 17.
(104) Josephus, Lib. 13, cap. 19.
(105) In προγονοι (greek, progonoi).
(106) “Antes de admitirem na sua seita quem o desejasse, põem-no em liberdade condicional de um ano e habituam-no à prática dos seus exercícios mais incómodos. Depois deste prazo, admitem-no no refeitório comum e no lugar onde banhar-se; mas não no interior da casa, até depois de outro julgamento de dois anos; então, eles são autorizados a fazer uma espécie de profissão, em que se comprometem, por horríveis juramentos, a observar as leis de piedade, justiça e modéstia; fidelidade a Deus e seu Príncipe; nunca para descobrir os segredos da sua seita para estranhos, e para preservar os livros dos seus mestres e os nomes dos anjos com grande cuidado.” Josephus, loco citato.
(107) “Eles consideram a alma imortal e acreditam que as almas descem do ar mais elevado para os corpos por eles animados, para onde são atraídas por alguma atração natural, à qual não podem resistir; e após a morte, retornam rapidamente ao lugar de onde eles vieram, como se estivessem livres de um cativeiro longo e melancólico. No que diz respeito ao estado da alma após a morte, eles têm quase os mesmos sentimentos que os pagãos, que colocam as almas dos homens bons nos Campos Elísios, e aqueles dos ímpios no Tártaro.” Josephus, loco citato.
(108) Philo, Lib. V, cap. 17.
(109) “Alguns empregam-se na agricultura, outros no comércio e manufatura de coisas apenas úteis em tempos de paz, seus projetos sendo benéficos apenas para eles próprios e outros homens.” “Você não encontra um artífice entre eles que faça uma flecha, um dardo, ou espada, ou elmo, ou couraça, ou escudo, ou qualquer tipo de armas, máquinas ou instrumentos de guerra.” Philo, loco citato.
(110) “Suas instruções são principalmente sobre santidade, equidade, justiça, economia, política, a distinção entre o bem real e o mal real; do que é indiferente, o que devemos perseguir ou evitar. As três máximas fundamentais de sua moralidade são: o amor de Deus, da virtude e do nosso próximo.” Philo, loco citato.
(111) “Os Essénios transmitiram as doutrinas que receberam dos seus ancestrais.” Philo, De vita contemplativa apud opera, p. 691.
(112) “Eles tinham sinais distintivos.” Ib.
(113) “Devo dizer algo sobre suas congregações e quantas vezes eles celebraram seus banquetes, etc.” Ib., p. 692.
(114) Vide Iamblicus, De Vita Pythagoræ, cap. 17, e Basnage, História dos Judeus, T. II, cap. 13.
(115) Strabo, p. 471.
(116) Psellus, citado por Clinch, Antologia Hibernica, de Janeiro, 1794.
***
Tradutor do texto original em língua inglesa:
Octávio Pimenta Sousa.
(G∴ O∴ e P∴ M∴ da R∴ L∴ Hesperydes nº119, Grande Loja Legal de Portugal / G∴ L∴ R∴ P∴)
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